Em 1939, quando se iniciou a Segunda Guerra Mundial, existiam aproximadamente 1.6 milhões de crianças judias vivendo nos territórios que os exércitos alemães ou seus aliados viriam a ocupar. No final da Guerra, em maio de 1945, mais de 1 milhão delas haviam sido assassinadas através do programas de genocídio nazista [OBS: atualmente, através do estudo de novos dados, chegou-se à soma de 1.5 milhão de crianças assassinadas]. O historiador do gueto de Varsóvia, Emanuel Ringelblum [OBS: preso naquele gueto e posteriormente chacinado a tiros], escreveu em 1942: "Mesmo nos tempos mais bárbaros, uma chama de humanidade brilhava no coração dos mais brutos, e as crianças eram poupadas. Mas o monstro hitlerista é bem diferente, ele devora o melhor dentre nós, aquelas que normalmente despertam grande compaixão: nossas crianças inocentes."

A libertação da tirania nazista não fez com que o sofrimento das poucas crianças judias que haviam sobrevivido ao Holocausto tivesse um fim. Muitos ainda teriam que enfrentar um futuro sem seus pais, avós ou irmãos.

Perseguição

A perseguição nazista contra os judeus começou na Alemanha no ano de 1933. Em 1939, a população israelita daquele país já havia sido deprivada de seus direitos civis, expoliada de suas propriedades pessoais pelos nazistas, além de ter sido marginalizada pela comunidade nacional. A partir daquele ano, com as conquistas de outros países europeus pelos alemães, iniciou-se a implementação de políticas anti-semitas naqueles territórios ocupados. Embora o ritmo e a brutalidade das perseguições fossem diferentes em cada local, os judeus foram marcados, difamados e segregados de seus vizinhos pelos nazistas e por seus colaboradores.

Na Europa Oriental, os nazistas costumavam isolar os judeus em guetos, que geralmente ficavam localizados nas partes mais desertas de uma cidade. Na Europa Ocidental, os campos de internação, muitos dos quais montados anteriormente para abrigar refugiados e inimigos estrangeiros, serviram como centros de detenção para judeus. Essas políticas de isolamento ajudaram os nazistas quando eles iniciaram os fuzilamentos em massa e as deportações para os centros de extermínio.

Morte

Em 1941, Hitler decidiu concretizar seu plano de eliminação o povo judeu na Europa através do seu sistemático assassinato em massa. Os esquadrões móveis de extermínio seguiram o exército alemão até a União Soviética, em junho de 1941, e, no final do ano, já haviam assassinado quase 1 milhão de homens, mulheres e crianças israelitas. Em dezembro do mesmo ano, começaram as operações do centro de extermínio de Chelmo. Durante o ano de 1942, os nazistas estabeleceram mais cinco campos de extermínio para acelerar o processo de matança de grandes números de judeus nas câmaras de gás.

Todos os judeus foram sido condenados à morte pelos nazistas, mas a taxa de mortalidade entre as crianças foi extremamente alta: somente 6 a 11% da população de crianças judias da Europa pré-guerra sobreviveram, comparado a 33% dos adultos. Os mais jovens, por serem pequenos e fracos, não eram selecionados para o trabalho escravo e, frequentemente, os nazistas realizavam o que denominavam de "Ações para Crianças" com o objetivo de reduzir o número de "consumidores inúteis de comida" dos guetos. Nos campos, as crianças, as pessoas mais velhas, os doentes, e as mulheres grávidas eram enviados para as câmaras de gás assim que chegavam.

Libertação

Após a derrota da Alemanha nazista, o mundo tomou conhecimento do impressionante número de mortes ocorridas durante o Holocausto. Poucas crianças judias sobreviveram à Guerra. Nos centros de extermínio e nos campos de concentração por toda a Europa, assassinatos em massa, abusos de todos os tipos, e experiências "médicas" cruéis acabaram com muitas vidas infantis. Dos cerca de 216.000 jovens judeus deportados para Auschwitz, somente 6.700 foram selecionados para trabalho escravo [OBS: provavelmente por serem os maiores e mais fortes]; quase todos os demais foram enviados diretamente para as câmaras de gás. Quando o campo foi liberado em 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas encontraram apenas 451 crianças judias dentre os 9.000 prisioneiros sobreviventes.

Logo após a libertação, instituições judaicas começaram a procurar por toda a Europa os sobreviventes e a calcular as perdas sofridas. Nos Países Baixos, o número de crianças judias sobreviventes era de, no máximo, 9 mil. Das quase 1 milhão de crianças judias que viviam na Polonia em 1939, somente 5 mil sobreviveram, muitas delas por haverem vivido em esconderijos.