A palavra suástica vem do sânscrito svtika, que significa “boa sorte” ou “bem-estar”.  O desenho (uma cruz gamada) parece ter sido utilizado pela primeira vez na Eurásia, há cerca de 7.000 anos, talvez como uma representação do movimento do Sol no céu.  Até hoje, é um símbolo sagrado no hinduísmo, no budismo, no jainismo e no odinismo.  É comum encontrá-la em templos ou residências na Índia e na Indonésia.  As suásticas também têm uma história antiga na Europa, aparecendo em artefatos de culturas europeias pré-cristãs.

Sua “Descoberta” e Seus Significados na Europa Moderna

 Devido a um crescente interesse europeu nas antigas civilizações do Oriente Próximo e da Índia, o símbolo teve um ressurgimento na Europa do século dezenove.  Durantes suas extensas escavações, o arqueólogo alemão Heinrich Schliemann encontradas na cerâmica alemã uma cruz gamada no local da antiga Tróia.  Ele combinou o símbolo com formas semelhantes, encontradas em cerâmicas na Alemanha, e especulou se a mesma seria “um símbolo religioso de significância para nossos ancestrais remotos”.  Outros pesquisadores e estudiosos europeus ligaram o símbolo a uma possível cultura ariana, a qual haveria abarcado a Europa e a Ásia. 

No início do século vinte, a suástica estava em grande moda na Europa. Ela possuía inúmeros significados, mas o mais comum era como símbolo de boa sorte e bons auspícios.

Como os Nazistas se Apropriaram da Suástica

 No entanto, o trabalho de linguistas e outros estudiosos europeus foi encampado por grupos racistas, para os quais a suástica era um símbolo da "identidade ariana" e do orgulho nacional alemão.

Esta conjectura sobre a ascendência cultural ariana do povo alemão é provavelmente uma das principais razões pelas quais o Partido Nazista adotou formalmente a suástica, ou a Hakenkreuz (i.e. Cruz Gamada), como seu símbolo, no ano de 1920.

O Partido Nazista não foi o único a usar a suástica na Alemanha. Após a 1ª Guerra Mundial, alguns movimentos nacionalistas da extrema-direita alemã já a haviam adotado e, como símbolo reconstruído, ela foi associada à ideia de um estado racialmente "puro". Na época em que os nazistas obtiveram o controle politico na Alemanha, as conotações originais da suástica já haviam sido alteradas para sempre.

No seu livro Mein Kampf, Adolf Hitler escreveu: "Enquanto isso, eu mesmo, depois de inúmeras tentativas, havia chegado a uma forma final; uma bandeira com fundo vermelho, um disco branco e uma suástica preta no meio. Após longas experimentações, também cheguei a uma proporção definida entre o tamanho da bandeira e o tamanho do disco branco, bem como entre a forma e a espessura da suástica".

O esquema de cores da bandeira nazista foi intencionalmente elaborado sobre as cores da Bandeira da Alemanha imperial (1871-1918), a qual ainda era um poderoso símbolo para muitos alemães que rejeitavam a democracia e a República de Weimar.  A combinação entre as cores, junto à suástica, criaram um logotipo poderoso, uma marca que tornou-se indelevelmente ligada ao Partido Nazista.  Muitos partidos políticos na Alemanha democrática não possuíam um logotipo politico; mas o Partido Comunista e o Partido Nazistas eram excessões.

A suástica se tornaria o ícone mais reconhecível da propaganda nazista, aparecendo na bandeira, mencionada por Hitler em Mein Kampf, bem como em cartazes eleitorais, braçadeiras, medalhões e emblemas militares e de outras organizações de extrema direita. Um símbolo poderoso, destinado a suscitar orgulho entre os que se pensavam “arianos”, a suástica também despertava terror entre judeus e outros grupos étnicos denominados como “inimigos” da Alemanha nazista.

A Suástica e o Terceiro Reich

 Em 1933, pouco após tomar o poder, o regime hitlerista substituiu a bandeira constitucionalmente mandatória da República de Weimar, com as cores preta, vermelha e dourada, cores tradicionalmente ligadas às tradições democráticas alemãs.  No dia 12 de maio de 1933, o presidente Paul von Hindenburg e Adolf Hitler emitiram um decreto declarando que a antiga bandeira imperial alemã (preta-branca-vermelha) deveria ser hasteada em conjunto com a bandeira que carregava a imagem da suástica. O edito dizia que “estas bandeiras conectam o passado glorioso do império alemão com o poderoso renascimento da nação alemã.  Em conjunto, elas incorporam o poder do Estado e a solidariedade interna dos círculos nacionais do povo alemão”.  

Dois meses mais tarde, em 19 de maio de 1933, o governo nazista proibiu que “os símbolos da história alemã, do Estado alemão, e da revolução nacional, fossem utilizados publicamente de forma tal que pudesse danificar os sentimentos de dignidade relativos aos mesmos.” A legislação era dirigida contra anunciantes e companhias privadas, dentre outros, que utilizassem a suástica, ou outros símbolos e imagens nazistas na divulgação comercial de seus bens e serviços sem a aprovação governamental.  Neste período, o mercado alemão estava inundado por produtos – café, cigarros e formas de bolos, dentre outros – decorados com suásticas, com a face de Hitler, ou outros símbolos.  A nova lei fez com que os produtores de produtos não autorizados ficassem sujeitos a ações criminais.

A Bandeira do Terceiro Reich e as Leis Raciais

Na reunião anual do Partido Nazista, levada a efeito em setembro de 1935, o governo alemão passou uma nova legislação direcionada a alienar ainda mais os judeus alemães.  Dentre as assim chamadas “Leis de Nuremberg”, estava a Lei da Bandeira do Reich (15 de setembro de 1935), que declarava que, a partir daquele momento, a bandeira com a suástica se constituiria na bandeira nacional oficial do Reich Alemão.   Naquele mesmo dia, o governo também aprovou a “Lei para a Proteção do Sangue e da Honra Alemã”, a qual proibia casamentos e relações sexuais entre cidadãos de “sangue alemão ou a ele relacionado” e judeus.  Uma estipulação extra esclarecia que os judeus estavam proibidos de hastear a nova bandeira (com a suástica) e que mostrasse as cores nacionais.

O ímpeto por trás da criação da Lei da Bandeira do Reich foi a foi a reação de raiva do regime nazista frente a eventos que ocorreram em Nova Iorque no verão e no outono de 1935.  No dia 26 de julho, várias centenas de manifestantes antinazistas cercaram um navio de passageiros de uma linha alemã, o SS Bremen, e o ancoraram em um cais naquela cidade, como protestos contra os ataques contra os judeus em Berlim.  Um grupo de manifestantes arrancou a suástica do cartaz no navio e a jogou no rio.  A polícia de Nova Iorque prendeu vários dos manifestantes.  As autoridades alemãs imediatamente emitiram um protesto formal junto às autoridades norte-americanas. 

Em resposta à decisão judicial americana de libertar aqueles manifestantes, o governo nazista promulgou a mencionada Lei.

Restrições Pós-Guerra ao Uso da Suástica e Controvérsias Culturais

Em seguida à derrota da Alemanha nazista em 1945, os governos dos países Aliados legislaram tornando ilegais as organizações nazistas.  Seus símbolos e sua propaganda foram removidos e sua disseminação foi criminalizada.  Os subsequentes governos pós-Guerra alemães continuaram a banir os símbolos nazistas e sua propaganda, incluindo a suástica.  Hoje, na Alemanha e em outros países europeus, a mostra pública de símbolos nazistas, inclusive pela Internet, é proibida por lei e os indivíduos que violam tais termos estão sujeitos a ações judiciais.

Nos Estados Unidos não é ilegal exibir símbolos e propaganda nazistas, devido às tradições do país e das leis que protegem a livre expressão.

Em tempos e em nações diversas, a suástica tornou-se um ícone cultural controverso.  Algumas gangues de motociclistas nos EUA começaram a usar a suástica, no início da década de 1950, para destacar sua natureza ilegal.  No final da década de 1970, alguns intérpretes de punk-rock seus seguidores passaram a mostrar abertamente a suástica como um símbolo de rebelião juvenil contra o status quo.

Algumas vezes, os símbolos nazistas assumem conotações neutras, ou mesmo positivas, em países com pouca ou nenhuma conexão com a história da ideologia nazista e de seus crimes de assassinato em massa.  A suástica, como um símbolo do nazismo, bem outros símbolos daquele regime, e até mesmo a figura de Adolf Hitler assumiram uma nova conotação em alguns países, onde passaram a significar unidade nacional, força, disciplina, anticolonialismo, lei e ordem.  Símbolos, tais como a suástica, possuem uma longa história.  Para evitar desentendimentos e seus mal usos, as pessoas devem levar em consideração o contexto e o uso que os nazistas fizeram desses símbolos e dos símbolos em geral. 

Leituras adicionais

Heidtmann, Horst. “Swastika.” Em Encyclopedia of the Third Reich, pag. 937-939. New York: Macmillan, 1991.

Heller, Steven. The Swastika: Symbol Beyond Redemption? - New York: Allworth Press, 2000.

Quinn, Malcolm. The Swastika: Constructing the Symbol. London: Routledge, 1994.