Os pais de Lilly haviam se separado antes dela nascer. Sua mãe, que havia se mudado para Bruxelas para trabalhar em uma pequena loja que fabricava capas de chuva, não conseguiu trabalhar e criar sozinha os três filhos. Lilly, a filha mais nova, ficou em Antuérpia e foi criada pelos avós em um bairro judeu, perto do coração do distrito de diamantes daquela cidade. Toda a família era judia.
1933-39: Meu avô era sapateiro e trabalhava em casa. Os clientes iam até onde vivíamos para tirar as medidas de seus pés. Como nossa família era pobre, eu tinha que frequentar uma escola pública ao invés da escola particular judaica. Quando minha avó faleceu, em 1939, fui para Bruxelas viver com minha mãe. Depois da escola, eu a ajudava a colocar as peças das capas de chuva em ordem para costurar. A Alemanha atacou o oeste [da Bélgica] no dia 10 de maio de 1940 e na sexta-feira, 17 de maio, o exército nazista entrou em Bruxelas.
1940-44: Quando fui deportada para Auschwitz, em 1944, tive a sorte de trabalhar na cozinha de um dos campos. Uma noite, um trem trouxe mulheres e crianças judias húngaras para serem assassinadas no dia seguinte. Eles estavam desesperados de fome, mas havíamos recebido ordens para não alimentá-las naquela noite. Decidi ir escondida levar algumas batatas para a barraca onde elas estavam. Quando, no escuro, passei a comida para as prisioneiras, começou um alvoroço. De repente, as luzes foram acesas, e a líder do barracão entrou rapidamente gritando para mim: "Eu poderia denunciar você! Você seria morta a tiros!". Mas, em seguida, me disse baixinho: "Volte para o seu barracão". No dia seguinte, as húngaras foram sufocadas e mortas nas câmaras de gás.
Lilly sobreviveu a uma marcha da morte que ia para o campo de Bergen-Belsen, de onde foi libertada no dia 15 de abril de 1945. Ela retornou a Bruxelas antes de emigrar para os Estados Unidos em 1946.
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