
O Holocausto na Hungria
Durante o Holocausto (1933-1945), o governo húngaro perseguiu e assassinou judeus por sua própria iniciativa e em colaboração com as autoridades alemãs nazistas. O Holocausto na Hungria afetou as comunidades judaicas tanto dentro daquele país quanto em territórios por ele anexados na Europa Central e Oriental. Ao todo, aproximadamente 825 mil israelitas estavam sob controle húngaro durante a Segunda Guerra Mundial, e cerca de 550 mil deles foram assassinados durante o Holocausto.
Fatos-Chave
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O momento do Holocausto na Hungria em 1944 preparou o cenário para um aumento devastador no volume dos assassinatos em massa; mas isso também gerou esforços extraordinários de resgate.
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De 1938 até março de 1944, o governo húngaro promulgou leis e políticas anti-judaicas por iniciativa própria. Entre quarenta e quatro a sessenta e três mil judeus foram assassinados pelos húngaros naquele período. Esta foi a primeira etapa do Holocausto na Hungria.
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3
Em 1944 -1945, as autoridades alemãs e húngaras trabalharam em conjunto. Em apenas um ano, eles assassinaram cerca de quinhentos mil judeus da Hungria. Esta foi a segunda etapa do Holocausto na Hungria.
Os judeus húngaros foram a última grande população judaica da Europa a cair sob o domínio nazista.

No final da década de 1930 e início da década de 1940, a população judaica da Hungria sofreu perseguição e violência diretamente por parte do governo húngaro. Mas não foi até a primavera de 1944, mais de quatro anos após o início da Segunda Guerra Mundial, que eles enfrentaram toda a força da máquina nazista de destruição. Àquela altura, os nazistas haviam aperfeiçoado os processos violentos de discriminação, desumanização, deportação e assassinato atualmente conhecidos como Holocausto (1933 - 1945), pois eles já tinham a experiência de ter assassinado milhões de judeus de forma sistemática.
O período do Holocausto na Hungria criou as condições para um aumento devastador do processo de assassinato em massa. Os nazistas e seus colaboradores húngaros assassinaram aproximadamente quinhentos e cinquenta mil judeus que viviam na Hungria durante o Holocausto. A grande maioria das vítimas, cerca de 500 mil, foi destruída no último ano da Guerra. Muitas foram assassinadas nas câmaras de gás do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Fotografias da chegada de israelitas da Hungria a Auschwitz se tornaram imagens icônicas do Holocausto.
A época do Holocausto na Hungria também preparou o cenário para esforços extraordinários de resgate. A operação internacional de resgate mais famosa foi a liderada pelo diplomata sueco Raoul Wallenberg. Aproximadamente duzentos e cinquenta mil judeus que viviam nos territórios controlados pelos húngaros sobreviveram ao Holocausto. Entre os sobreviventes estavam Livia Bitton-Jackson, autora de I Have Lived a Thousand Years (“Eu Vivi Mil anos”), e o laureado com o Prêmio Nobel, Elie Wiesel. Muitos sobreviventes da Hungria também se tornaram voluntários que hoje trabalham no Museu Estadunidense Memorial do Holocausto.
A Primeira Etapa do Holocausto na Hungria - 1938 a março de 1944
A primeira etapa do Holocausto na Hungria começou em torno de 1938 e terminou em março de 1944. Durante este período, o governo húngaro perseguiu judeus por iniciativa própria. As políticas antijudaicas basearam-se em uma longa história de antissemitismo na Hungria.
Desde 1920, o governo húngaro era um regime autoritário de Direita, e era comandado por Miklós Horthy. Horthy e outros líderes húngaros eram nacionalistas, antissemitas e anticomunistas.
Até março de 1944, a Hungria era um estado soberano que mantinha relações diplomáticas amigáveis com a Alemanha nazista, pois os dois governos compartilhavam uma visão-de-mundo semelhante. Em novembro de 1940, a uniu-se à aliança do Eixo, tornando-se aliada formal da Alemanha Nazista.
Legislação Antissemita Húngara
Durante o regime de Horthy (1920 - 1944), o governo húngaro aprovou leis anti-judaicas. O objetivo era excluir os judeus da vida social, econômica, política e cultural daquele país. De acordo com o censo de 1920, havia aproximadamente quatrocentos e setenta mil israelitas vivendo na Hungria naquela época. A população judaica representava quase 6% da população total da Hungria, que era de quase oito milhões de pessoas.
A primeira das leis antijudaicas da Hungria foi promulgada em 1920, antes do início do Holocausto. Naquele ano, o Parlamento Húngaro aprovou a lei numerus clausus. Esta lei limitou a matrícula universitária de estudantes judeus. Foi a primeira lei anti judaica promulgada na Europa após a Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918).
A perseguição contra os judeus e a discriminação legal na Hungria começaram a se intensificar em 1938. Entre 1938 e 1941, o governo húngaro aprovou as três principais leis anti judaicas:
- A Primeira Lei Judaica (maio de 1938) estabeleceu cotas que restringiam o número de judeus em determinados setores da economia do país a 20%. Aqueles setores incluíam profissões de escritório e negócios/indústria.
- A Segunda Lei Judaica (maio de 1939) definiu judeus em termos raciais e restringiu os direitos de voto de certos israelitas. Também restringiu ainda mais as cotas estabelecidas no ano anterior.
- A Terceira Lei Judaica (agosto de 1941) proibiu casamentos e relações sexuais entre judeus e não-judeus.
No final dos anos 1930 e início dos anos 40, o governo húngaro aprovou várias outras leis anti-judaicas. A maioria delas excluía os israelitas de diversos aspectos da vida econômica e social do país. Como resultado, dezenas de milhares de judeus perderam seus empregos, seus negócios ou suas fontes de subsistência.
Expansão Territorial Húngara - 1938 - 1941
Em 1938, a Hungria começou a expandir seu território para além das fronteiras acordadas após a Primeira Guerra Mundial. Isto ocorreu com o apoio alemão e em conjunto com a expansão territorial da Alemanha nazista. Este esforço ajudou os líderes da Hungria a alcançarem seu objetivo geopolítico de recuperar territórios que o país havia perdido nos tratados de paz pós-Primeira Guerra Mundial.
Entre 1938 e 1941, a Hungria tomou territórios (listados na Tabela 1) de países vizinhos -- Checoslováquia, Romênia e Iugoslávia. Estes territórios eram habitados por populações multiétnicas e multi religiosas. Húngaros étnicos, romenos, eslovacos, sérvios, judeus e muitos outros grupos sociais e culturais viviam nestas regiões. Em todos os territórios anexados, o governo húngaro cometeu perseguições, expulsões e atos de violência contra as populações não-húngaras.
Os judeus que viviam nos territórios anexados enfrentaram as leis e políticas anti-judaicas da Hungria. O censo húngaro de 1941 registrou 725.007 pessoas que se identificavam como israelitas. Cerca de trezentos e vinte e cinco mil deles viviam nos territórios anexados à força pela Hungria. Em 1941, a população judaica constituía cerca de 5% da população total da Grande Hungria (14.683.323). Além disso, cerca de 100.000 pessoas a mais foram consideradas racialmente judias sob a Segunda Lei Judaica (1939). Elas o eram consideradas ainda que elas mesmo não se identificassem como judias.
Tabela 1. Expansão territorial da Hungria e números da população judaica, 1938 - 1941
Território |
Anexado da |
Data |
População total do território anexado (1941) |
População judaica (1941) |
O sul da Eslováquia e uma pequena parte do sul da Rutênia Sub Carpática (Primeira Arbitragem de Viena) |
Checoslováquia |
1938 de novembro |
1.000.000 |
68.000 |
Rutênia Sub Carpática |
Checoslováquia |
Março de 1939 |
700.000 |
78.000 |
Transilvânia do Norte (Segunda Arbitragem de Viena) |
Romênia |
Agosto – setembro de 1940 |
2.600.000 |
146.000 |
Bačka, partes de Baranja, Međimurje e Prekmurje |
Iugoslávia |
Abril de 1941 |
1.000.000 |
14.000 |

Exploração dos Homens Judeus no Sistema de Trabalho Escravo na Hungria - 1939 - 1945
De 1939 a 1945, o governo húngaro explorou homens judeus em idade militar através do sistema de serviço de trabalho escravo (munkaszolgálat).
O governo húngaro criou o sistema de trabalho escravo como alternativa ao serviço militar regular. Ele era destinada a homens considerados como não-confiáveis pelo governo, ou seja, oponentes políticos, membros de certas seitas cristãs, romenos, sérvios e, especialmente, os judeus estavam entre os forçados à escravidão. Inicialmente, o serviço de trabalho era realizado na Hungria e nos territórios por ela anexados. As condições ainda eram razoáveis.
Após a entrada da Hungria na Segunda Guerra Mundial, na primavera de 1941, o Ministério da Defesa húngaro transformou o sistema de serviços de trabalho escravo em uma instituição mais repressiva e abertamente antissemita. Os trabalhadores judeus foram separados de seus colegas não-israelitas. Eles não recebiam mais uniformes; e, além disso, eram obrigados a usar braçadeiras discriminatórias que os identificavam como judeus.
A partir do verão de 1941, dezenas de milhares de trabalhadores judeus foram enviados para perto das linhas de frente na área da Europa Oriental ocupada pelos países do Eixo, especialmente na Ucrânia. Os oficiais húngaros frequentemente tratavam muito mal aqueles homens e os submetiam a uma violência brutal. Os homens israelitas não tinham abrigo, comida, roupas ou cuidados médicos adequados. Um número significativo deles acabou em cativeiro soviético como prisioneiros-de-guerra.
Estudiosos estimam que cerca de cem mil homens judeus foram obrigados a participar do trabalho escravo. Entre vinte e cinco a quarenta e dois mil deles morreram antes da Alemanha ocupar a Hungria em março de 1944.
Deportação de Judeus da Hungria e o Massacre de Kamenets-Podolsk - 1941
Um dos atos mais notórios de violência antissemita na primeira fase do Holocausto na Hungria ocorreu no verão de 1941. Isso ocorreu após o ataque do Eixo à União Soviética (“Operação Barbarossa”). Entre julho e agosto de 1941, autoridades húngaras reuniram e deportaram judeus que consideravam "estrangeiros inadequados e cidadãos estrangeiros". O governo húngaro deportou mais de vinte mil israelitas pela fronteira para a Galícia, então ocupada pelas forças do Eixo (na época era na Polônia, hoje é na Ucrânia). As deportações foram rápidas, desorganizadas, caóticas e desumanas.
Eventualmente, a maioria dos judeus deportados da Hungria (cerca de quatorze a dezesseis mil) foi levada para a cidade de Kamenets-Podolsk. Lá, eles foram aprisionados em um gueto. De 26 a 28 de agosto, unidades das SS e da polícia alemã nazista e seus colaboracionistas ucranianos locais realizaram uma operação de chacina por tiroteio em massa em Kamenets-Podolsk. Eles assassinaram vinte e três mil e seiscentos israelitas. É provável que alguns oficiais militares húngaros tenham presenciado e talvez participado da operação de captura e operação de assassinato por tiroteio em massa.
Muitos dos judeus deportados da Hungria que não foram mortos em Kamenets-Podolsk foram baleados em massacres subsequentes, morreram em guetos ou foram assassinados no campo de extermínio de Belzec. Talvez até dois mil refugiados judeus tenham conseguido retornar para a Hungria. Os relatos deles sobre o que havia acontecido na Galícia eram frequentemente recebidos com descrença, de tão terríveis que eram.
Os Ataques em Bačka na Iugoslávia Ocupada pelos Húngaros
Em janeiro de 1942, unidades militares húngaras conduziram incursões na região de Bačka, anexada pela Hungria, na Iugoslávia. Essas incursões foram supostamente em resposta a atividades de partisans locais. A violência ocorreu na cidade de Novi Sad (Újvidék, em húngaro) e em outras cidades da região. As autoridades húngaras começaram uma perseguição direcionada a sérvios, israelitas e a outros grupos. Cerca de mil judeus e dois mil e quinhentos sérvios foram assassinados. Os autores dos massacres foram julgados por tribunais húngaros entre 1943 e 1944.
Recusas Húngaras para Atender Pedidos de Deportação pelos Alemães - 1942 - 1944
Na primeira etapa do Holocausto na Hungria, o governo húngaro não participou plenamente do processo de assassinato em massa, liderado pelos nazistas, contra os judeus.
O tratamento mortal dado aos judeus pela Alemanha nazista intensificou-se rapidamente após a invasão da União Soviética em junho de 1941. Unidades alemãs começaram a assassinar comunidades judaicas inteiras em operações de chacina por tiroteio em massa. No período entre o final de 1941 ao final de 1942, o regime alemão construiu campos de morticínio projetados para assassinar os israelitas em grande escala utilizando gás venenoso. As autoridades alemãs deportaram israelitas de toda a Europa para tais campos de morticínio. Eles contavam com seus aliados e colaboradores locais para assisti-los nas atrocidades cometidas.
Em 1942, o governo nazista alemão começou a pressionar o governo húngaro para deportar todos os judeus da Hungria para os territórios controlados pelos alemães. No entanto, Horthy e o primeiro-ministro Miklós Kállay (governo de março de 1942 a março de 1944) recusaram-se a permitir a extradição. Horthy e Kállay responderam que o destino da população judaica da Hungria era uma questão doméstica, e argumentaram que deportar judeus poderia ter consequências potencialmente devastadoras para a economia da Hungria.
A recusa em cooperar significou que milhares de judeus permaneceram vivos na Hungria durante os anos de pico dos assassinatos em massa. Mesmo assim, nesse período, os israelitas na Hungria enfrentaram dificuldades significativas devido às leis antissemitas do país e ao sistema de trabalho escravo. No entanto, ao contrário dos israelitas sob ocupação nazista direta em outros lugares, a maioria dos judeus na Hungria permaneceu em suas próprias casas, com acesso a alimentos e outros recursos excassos. A Hungria atraiu milhares de refugiados judeus que fugiam do assassinato em massa nazista em países vizinhos.
O período em que a Hungria serviu como um refúgio relativamente seguro do assassinato em massa nazista chegou a um fim abrupto em março de 1944, quando a Alemanha nazista ocupou o país.

A Segunda Etapa do Holocausto na Hungria - Março de 1944-1945
Em março de 1944, a Alemanha Nazista decidiu ocupar sua aliada Hungria por motivos militares relacionados ao papel da Hungria no esforço de guerra em andamento. Em 19 de março de 1944, o exército alemão entrou na Hungria com relativa facilidade. Os húngaros atenderam rapidamente às exigências alemãs. Como consequência, a maioria das tropas alemãs permaneceu na Hungria por apenas um breve período. Os alemães, porém, continuaram a exercer um papel preponderante na política húngara.
As autoridades de ocupação alemãs permitiram que Horthy permanecesse no cargo de regente da Hungria. Muitos outros funcionários húngaros também mantiveram seus cargos. No entanto, os alemães insistiram que Horthy substituísse o primeiro-ministro Kállay pelo pró-alemão Döme Sztójay que, como primeiro-ministro, cooperou com as autoridades alemãs. Vários antissemitas radicais de direita receberam posições importantes em seu governo.
Um dos objetivos da Alemanha nazista depois de ocupar a Hungria era realizar a deportação e o assassinato em massa dos judeus do país. Em março de 1944, viviam entre 760.000 e 780.000 israelitas na Hungria. Na época, esta era a maior população judia sobrevivente na Europa.
A ocupação alemã na Hungria foi um importante ponto de virada. No ano seguinte, os alemães e seus colaboradores húngaros destruíram cerca de quinhentos mil judeus da Hungria.
Novas Medidas Antissemitas na Hungria Ocupada pela Alemanha - Primavera de 1944
Após a ocupação alemã, o governo da Hungria promulgou dezenas de decretos antissemitas. Seu objetivo era isolar, estigmatizar e empobrecer completamente os judeus na Hungria. Novos regulamentos antissemitas obrigaram os israelitas a ceder bens como carros, telefones, rádios e bicicletas. Outros decretos os proibiram de assistir filmes ou peças com não-judeus. Decretos adicionais reduziram as rações de alimentos dos israelitas.
No final de março de 1944, o governo húngaro anunciou que, a partir de 5 de abril, todos os judeus com seis anos de idade ou mais seriam obrigados a usar um distintivo amarelo de Estrela de David costurado em suas roupas.
Em todo o país, as autoridades húngaras, incluindo prefeitos, policiais e oficiais da gendarmaria, cooperaram na implementação dessas medidas. Seguindo ordens do governo, instruíram as comunidades judaicas a criar listas de registro de todos os judeus em sua região.
Guetos de Trânsito na Hungria e a Deportação de Judeus da Hungria - Abril-Julho de 1944
As autoridades alemãs e húngaras logo começaram a planejar a guetização e a deportação dos judeus da Hungria. O oficial das SS nazista Adolf Eichmann e sua equipe de especialistas em deportação foram a Budapeste para facilitar tal processo. Na primavera e verão de 1944, as autoridades húngaras e alemãs dividiram a Hungria em seis zonas operacionais. Em cada zona, a criação de guetos antecedeu a deportação.
A partir de abril de 1944, autoridades húngaras estabeleceram guetos de trânsito em cidades e vilarejos. As autoridades húngaras incluíam autoridades do governo regional e distrital, prefeitos, funcionários de saúde pública, policiais e gendarmes. Os guetos eram frequentemente estabelecidos em bairros judeus ou em grandes edifícios como fábricas, armazéns ou olarias. Normalmente, eles estavam localizados próximo às instalações ferroviárias para facilitar a deportação dos judeus. Israelitas de pequenas cidades e vilarejos foram concentrados em guetos em cidades maiores. Eles eram aprisionados nesses guetos de trânsito por dias ou semanas, e eram vigiados pelas autoridades húngaras e recebiam alguma alimentação, abrigo e cuidados médicos limitados. Um número limitado de autoridades alemãs participou do processo. O saque, o roubo e a tortura generalizados acompanharam o processo de guetização.
As deportações sistemáticas de judeus dos guetos de trânsito começaram em meados de maio de 1944. Zona por zona, especialistas alemães em deportação e gendarmes húngaros forçaram os israelitas a saírem dos guetos de trânsito e a entrarem em vagões de carga. Entre 15 de maio e 9 de julho de 1944, aproximadamente 437.000 israelitas foram deportados da Hungria em cento e quarenta e sete trens. Cerca de 420.000 deles foram enviados para o campo de morticínio de Auschwitz-Birkenau. Quando lá chegavam, passavam por um processo de seleção. Cerca de cem mil judeus da Hungria foram selecionados para trabalhar como escravos em Auschwitz. Os demais, aproximadamente trezentos e trinta mil israelitas (cerca de 75%), foram assassinados nas câmaras de gás logo após sua chegada aos campos nazistas. As vítimas incluíam homens, mulheres e crianças de todas as idades. Este foi o período mais letal em Auschwitz-Birkenau.
Horthy Suspende as Deportações - Junho-Julho de 1944
Em 7 de julho de 1944, Horthy ordenou a suspensão das deportações de judeus da Hungria. Ele fez isso devido ao agravamento da posição militar da Alemanha, às ameaças internacionais e à pressão de seu círculo íntimo. Contudo, as deportações para Auschwitz das cidades ao redor de Budapeste continuaram por mais dois dias, e só foram paralisadas em 9 de julho. Mesmo com as ordens de Horthy, Eichmann, seus especialistas alemães em deportação e seus aliados no governo húngaro tentaram continuar o processo. No final de julho e agosto de 1944, eles realizaram um pequeno número de deportações de israelitas para Auschwitz a partir de campos de internamento húngaros.
A única comunidade judaica que permaneceu quase intocada pelas deportações dos meses anteriores foi a de Budapeste.
“Casas ‘Estrela Amarela”: Budapeste, Verão de 1944

Em julho de 1944, a grande comunidade judaica de Budapeste somava cerca de duzentas mil pessoas.
Naquele verão, as condições em Budapeste eram sombrias. A totalidade das leis e medidas antissemitas do governo húngaro ainda estavam em vigor. Notícias sobre deportações do interior chegaram à capital. O governo húngaro também introduziu uma forma de guetização dispersa pela cidade. O governo central húngaro e os membros do governo municipal de Budapeste forçaram os judeus a morar nas chamadas “casas de estrelas amarelas”. As autoridades também estabeleceram toque de recolher e outras restrições.
Operações de Resgate na Hungria
A cronologia do Holocausto na Hungria permitiu várias operações extraordinárias de resgate. Tanto judeus quanto não-judeus lideraram tais esforços.
Em especial, os líderes judeus do Comitê de Socorro e Resgate de Budapeste tentaram negociar e subornar líderes nazistas para salvar os israelitas na Hungria. O comitê negociou uma operação de resgate conhecida como Kasztner Transport. Em troca de dinheiro e objetos de valor, autoridades nazistas concordaram em permitir que um transporte de israelitas fosse levado para um local seguro. Mais de mil e seiscentos judeus conseguiram sobreviver desta forma.
Durante o verão e o outono de 1944, inúmeras operações internacionais de resgate estavam ocorrendo em Budapeste. Elas foram lideradas por membros de missões diplomáticas de países neutros, especialmente da Suécia e da Suíça. Os diplomatas Raoul Wallenberg (Suécia) e Carl Lutz (Suíça) coordenaram a criação e a distribuição de passes de proteção. Um passe de proteção (às vezes chamado de Schutzpass) era um documento que indicava que uma pessoa (ou família) estava sob a proteção de uma potência neutra. Salvadores dos judeus também criaram casas seguras para os israelitas na cidade. Eles frequentemente colaboravam de perto com organizações judaicas e grupos de resgate. Wallenberg foi recrutado pelo American War Refugee Board (Comitê Americano de Refugiados de Guerra).
Tomada da Hungria pela “Cruz Flechada”
Em agosto de 1944, à medida que a maré da Guerra se movia ainda mais a favor dos Aliados, Horthy demitiu o Primeiro-Ministro Sztójay, e instalou um novo governo. Ele também destituiu muitos dos membros antissemitas de extrema-direita do governo Sztójay. Em setembro, o Exército Vermelho (a força militar soviética) cruzou a fronteira para a Hungria. Horthy enviou representantes para negociar um armistício com os soviéticos.
Em 15 de outubro de 1944, Horthy tentou romper abertamente com a Alemanha nazista, e anunciou um cessar-fogo com os soviéticos. No entanto, Horthy havia planejado mal. Os alemães e seus colaboradores húngaros rapidamente assumiram o controle da situação. Autoridades alemãs detiveram Horthy. Ameaçaram a vida de seu filho e exigiram que ele formasse um novo governo. Horthy concordou. O novo governo foi liderado por Ferenc Szálasi. Szálasi foi o líder do movimento fascista e radicalmente antissemita chamado Partido da “Cruz Flechada” (Nyilaskeresztes Párt). Sob a liderança da “Cruz Flechada”, a Hungria continuou a lutar contra os soviéticos ao lado da Alemanha nazista.
As milícias da “Cruz Flechada”, realizaram um reinado de terror contra os judeus de Budapeste. Os membros daquela organização (chamados de “Nyilas”) israelitas de todas as idades no rio Danúbio para que morressem afogados.
Deportações de Budapeste - Outono de 1944
Em 20 de outubro, as milícias da “Cruz Flechada” começaram a prender grupos de judeus para executarem trabalho escravo. Um dia depois, o governo da”Cruz Flechada” emitiu uma ordem para que homens e mulheres israelitas fossem obrigados a realizar trabalhos escravos. Dezenas de milhares de israelitas foram capturados. Inicialmente, eles precisaram cavar valas antitanque em torno da cidade. Em 6 de novembro, o governo começou a deportação, com os prisioneiros caminhando a pé cerca de 160 km a Oeste, até Hegyeshalom (uma aldeia ao longo da fronteira entre Áustria e Hungria). Muitos judeus morreram de cansaço ou foram fuzilados ao longo do caminho, e os que sobreviveram à viagem foram entregues aos alemães, supostamente como “empréstimo”. Os húngaros também “emprestaram” batalhões de escravos judeus aos alemães.
Diplomatas (incluindo Raoul Wallenberg e Carl Lutz), organizações judaicas e húngaros comuns intervieram o máximo possível tentando fornecer ajuda ou salvar as pessoas das deportações, mas dezenas de milhares de israelitas húngaros foram entregues aos alemães em novembro e dezembro de 1944. Os alemães os requisitaram para que eles realizassem trabalho escravo. Muitos dos escravos foram obrigados a construir trincheiras defensivas, e trabalhavam sob condições mortais e extenuantes. Milhares morreram ou foram assassinados. Muitos outros morreram posteriormente nas marchas da morte da primavera de 1945.
Gueto de Budapeste e Gueto Internacional - Novembro–Dezembro de 1944
No final de 1944, o regime da “Cruz Flechada” criou dois guetos em Budapeste.
Um deles era um gueto cercado no tradicional bairro judeu de Budapeste. O regime ordenou que os judeus residentes nas “casas das estrelas amarelas” se mudassem para aquele gueto. O gueto de Budapeste também era chamado de “Gueto de Pest” ou “Grande Gueto”. Ele era extremamente lotado. O gueto foi fechado em dezembro de 1944. A capacidade era para apenas cerca de 70.000 pessoas, mas havia muito mais, e cerca de três mil israelitas morreram ali por doenças e inanição.
Os judeus com passes de proteção internacional foram alojados no que ficou conhecido como “gueto internacional”. Esse gueto também era chamado de “Gueto Protegido” ou “Pequeno Gueto”. A área não estava cercada, mas incluía um grupo de edifícios de apartamentos sob proteção internacional. Oficialmente, quinze mil e seiscentas pessoas viviam no gueto internacional. Na realidade, muito mais pessoas que buscavam segurança viviam lá, incluíndo pessoas com documentos de proteção falsificados ou sem qualquer documentação real.
Milhares de judeus em Budapeste se esconderam em vez de se mudarem para qualquer um dos outros guetos.
O Final: A Libertação dos Judeus na Hungria - 1944-1945
À medida que o Exército Vermelho (o exército soviético) avançava para o oeste, eles libertaram os judeus da Hungria. Entre os libertados estavam israelitas que serviam em batalhões de trabalho escravo e aqueles que viviam na clandestinidade e puderam sair de seus locais de esconderijo.
Em 2 de novembro de 1944, os soviéticos iniciaram seu ataque a Budapeste. No inverno de 1944-1945, as Forças Soviéticas cercaram Budapeste e impuseram um cerco à cidade. Forças alemãs e húngaras lutaram ferozmente para defender a capital húngara. Durante esse período, as milícias da “Cruz Flechada” continuaram a perpetrar violência contra os judeus. Os soviéticos libertaram o Gueto Internacional em 16 de janeiro de 1945 e o gueto de Budapeste em 17 e 18 de janeiro. Eles conquistaram o restante da cidade em fevereiro. Em abril de 1945, os soviéticos já haviam tomado completamente a Hungria.
Os soviéticos libertaram cerca de 119.000 judeus em Budapeste, e liberaram um pequeno número no restante do país.
Número de Vítimas do Holocausto na Hungria

Em 1941, cerca de oitocentos e vinte e cinco mil judeus viviam na Hungria e em seus territórios anexados. Mais de 65% deles (cerca de quinhentos e cinquenta mil pessoas) foram assassinados durante o Holocausto.
Entre quarenta e quatro a sessenta e três mil judeus morreram de fome e inanição, aliados a mau tratos, ou foram assassinados na primeira fase do Holocausto na Hungria.
Cerca de quinhentos mil judeus da Hungria foram assassinados na segunda etapa. Destes, aproximadamente trezentos e trinta mil foram mortos nas câmaras de gás na chegada ao centro de morticínio de Auschwitz-Birkenau. Dezenas de milhares morreram enquanto estavam presos em Auschwitz ou outros campos de concentração alemães e campos de trabalho escravo, bem como em marchas da morte. Milhares foram assassinados em Budapeste por milicianos húngaros da “Cruz Flechada”.
Cerca de duzentos e cinquenta judeus da Hungria sobreviveram ao Holocausto. Sua sobrevivência só foi possível por causa de uma confluência de fatores, principalmente o calendário, o resgate e a sorte.
Pés-de-página
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Footnote reference1.
No final do século 19, a Hungria era uma parte autônoma do Império Austro-Húngaro. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Áustria-Hungria lutou ao lado das Potências Centrais, que incluíam o Império Alemão e o Império Otomano. Conforme se percebeu que as Potências Centrais estavam perdendo a guerra, o Império Austro-Húngaro desmoronou. Novos estados-nação independentes foram fundados em seu lugar e, entre eles, estava a Hungria. O colapso do império levou a conflitos diplomáticos e militares significativos sobre a quem deveria pertencer cada território. Nas negociações de paz do período pós-Guerra, parte do território que fazia parte da Hungria foi alocado a outros países. Esses países incluíam a Romênia, o recém-estabelecido estado da Checoslováquia e o reino que ficou conhecido como Iugoslávia. As perdas territoriais da Hungria foram ratificadas no Tratado de Trianon. Esse tratado foi assinado em Paris em junho de 1920. No período pós-Primeira Guerra, a Hungria compreendia apenas um terço do território pré-Guerra da Hungria.
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Footnote reference2.
As primeiras deportações de judeus da Hungria para Auschwitz foram de campos de internamento húngaros no final de abril de 1944. Essas deportações foram anteriores às deportações sistemáticas que começaram em meados de maio.
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Footnote reference3.
No total, os estudiosos estimam que cerca de quatrocentos e trinta mil judeus da Hungria foram deportados para Auschwitz em 1944. A maior parte das deportações para Auschwitz aconteceu entre 15 de maio e 9 de julho. Naquele período, cerca de quatrocentos e vinte mil israelitas foram deportados da Hungria para Auschwitz. O número total de quatrocentos e trinta mil inclui pessoas que chegaram nos transportes enviados da Hungria para Auschwitz no final de abril de 1944 e vários outros tipos de transporte do final do verão e início do outono de 1944. Em junho de 1944, vários transportes levando cerca de quinze mil israelitas foram deportados de guetos de trânsito na Hungria para Strasshof, um campo de trânsito próximo a Viena. A partir de lá, eles eram enviados para trabalhar como escravos em Viena. Pesquisadores estimam que cerca de 75% dos deportados de Strasshof conseguiram sobreviver.