Illustration from an antisemitic children's primer.

Antissemitismo: Uma Introdução

Antissemitismo significa preconceito ou ódio contra um judeu individualmente ou contra o povo judeu como um todo. Este ódio foi a base em que germinou o Holocausto. Mas o antissemitismo não começou nem terminou com o Holocausto, ele existe há milhares de anos. Ele frequentemente tem assumido a forma de discriminação sistêmica e perseguição contra os israelitas. O antissemitismo levou repetidamente a violências graves e fatais contra o povo judeu.

 

Fatos-Chave

  • 1

    Esse conjunto de crenças e ideias odiosas tem profundas raízes históricas, sociais e culturais. Ao longo de muitos séculos, o cristianismo teve um papel central no desenvolvimento e na disseminação do antissemitismo na Europa, onde os judeus sempre foram minoria.

  • 2

    Até a atualidade, ideias e estereótipos antissemitas são defendidos por pessoas de diferentes origens e religiões, além de estarem presentes por todo o espectro político.

  • 3

    O antissemitismo muitas vezes assume a forma de uso de judeus como bodes expiatórios para problemas sociais e culturais, bem como teorias da conspiração baseadas em estereótipos e figuras de linguagem. Estas teorias retratam falsamente o povo judeu como perigoso para a sociedade e até mesmo para o mundo.

Antissemitismo significa preconceito ou ódio contra um judeu individualmente ou contra o povo judeu como um todo.  É uma forma de intolerância e racismo. Durante séculos, os antissemitas demonizaram e desumanizaram os judeus divulgando figuras de linguagem antissemitas, estereótipos e teorias de conspiração.

O antissemitismo é um conjunto de crenças e ideias odiosas sobre os judeus e a religião judaica, o Judaísmo. Ele se baseia em preconceitos antigos e muito generalizados. No entanto, a palavra “antissemitismo” é mais moderna, ela foi cunhada em alemão como “Antisemitismus” no final do século 19 por Wilhelm Marr. Em inglês, o antisemitismo é por vezes grafado como "antisemitism", “anti-semitism”, “anti-Semitism” ou “anti semitism” Em português, o antissemitismo às vezes é grafado como “anti-semitismo”. 

O antissemitismo foi o cerne do Holocausto. O Holocausto (1933-1945) foi a perseguição e o assassinato sistemático de seis milhões de judeus europeus pela Alemanha nazista, seus aliados e colaboradores. Os nazistas incitaram as pessoas a cometerem genocídio baseando-se em séculos de preconceitos e ódios antissemitas entre a população européia. 

Mas o antissemitismo não começou e nem terminou com o Holocausto. Durante séculos, pessoas de diferentes religiões, níveis socioeconômicos, visões políticas e nacionalidades expressaram ou agiram com base em preconceitos e crenças antissemitas. O antissemitismo frequentemente culmina em discriminação e violência contra os judeus.  

Na Europa, os preconceitos e ódios antijudaicos remontam aos tempos da Antiguidade e ao início do cristianismo. Durante séculos, os judeus foram minorias populacionais, tendo sido frequentemente perseguidos em inúmeros reinos, impérios e países europeus. O preconceito contra os judeus era parte generalizada da vida e do pensamento europeus durante a Idade Média (cerca de 500-1400 E.C.); no início da Era Moderna (cerca de 1400-1789 E.C.); e nos séculos 18 e 19 (1700-1900 E.C.), quando muitos países começaram a se modernizar e a se tornar mais seculares. No início do século 20, muitos estereótipos, equívocos e mitos antissemitas já estavam bem estabelecidos e eram amplamente aceitos pelas pessoas na Alemanha e em outras sociedades europeias. Foi este ódio sistêmico que possibilitou a existência do Holocausto (1933-1945 E.C.). 

Raízes Cristãs do Antissemitismo

Front page of the most popular issue ever of the Nazi publication, Der Stürmer, with a reprint of a medieval depiction of a purported ...

Primeira página da edição mais vendida da publicação nazista Der Stürmer, a qual reproduzia um desenho medieval que mostrava um assassinato ritual imaginário cometido pelos judeus.

Créditos:
  • US Holocaust Memorial Museum, courtesy of Virginius Dabney

O antissemitismo tem suas raízes no antijudaísmo dos tempos antigos e do início do cristianismo. Muitos estereótipos e conspirações sobre os judeus remontam aos ensinamentos e práticas cristãs primitivas e medievais. Os primeiros cristãos ensinaram que o cristianismo havia substituído o judaísmo e que os judeus não eram mais o povo escolhido de Deus. Eles alegavam que os judeus eram teimosos e cegos para a verdade porque não aceitavam Jesus como o Messias. Estas ideias moldaram a desconfiança e a animosidade dos cristãos em relação aos judeus por muitos séculos.

Outras crenças ou temas cristãos que deram origem às primeiras expressões de preconceitos antijudaicos incluíam:  

  • a falsa acusação de que os judeus mataram Jesus, a qual foi reforçada pelos ensinamentos cristãos oficiais;
  • a traição do apóstolo Judas Iscariotes a Jesus como símbolo de uma  suposta traição e ganância judaica generalizadas; 
  • acusações cristãs de que os judeus trabalham para o demônio ou são o próprio diabo; e 
  • acusações falsas de que judeus faziam “rituais” com crianças cristãs, assassinando-as durante esses rituais para extrair seu sangue e preparar o pão da assim chamada "Páscoa Judaica"; esta lenda é conhecida como “Libelo de Sangue”.

Atualmente, estas ideias não são mais promovidas de forma ativa pela maioria das igrejas e denominações cristãs. No entanto, elas influenciaram as atitudes em relação aos judeus durante séculos. Assim, o cristianismo e as ideias cristãs sobre os judeus formaram a base do antissemitismo moderno. 

O antissemitismo era pervasivo por toda a Europa e em outras  áreas do mundo em que prevalecia o cristianismo, mesmo em lugares onde poucos ou nenhum judeu vivia. Hoje em dia, o antissemitismo continua a ser difundido em sociedades que não são predominantemente cristãs. 

Antissemitismo Secular (Não Religioso)

O antissemitismo também inclui preconceitos seculares (não religiosos) sobre os judeus. Ideias e crenças econômicas, nacionalistas e raciais negativas sobre os judeus se desenvolveram na Europa ao longo de muitos séculos. Estes preconceitos e ódios seculares surgiram devido à posição populacional minoritária dos judeus nas sociedades predominantemente cristãs européias. Unidas, tanto as ideias e crenças religiosas odiosas como as seculares sobre o povo judeu formam o antissemitismo. 

Antissemitismo Econômico  

O antissemitismo econômico é baseado em estereótipos prejudiciais e degradantes de que os judeus são inerentemente gananciosos, mesquinhos ou bons em gerir dinheiro. No inglês, a frase antissemita “Jew down” (que significa “barganhar” ou “enganar”) é uma expressão contemporânea deste preconceito [no Brasil existe o verbo "Judiar"]. Outro exemplo a falsa associação de judeus a empréstimos, bancos ou finanças, apesar do fato de que a maioria dos judeus não trabalha em profissões relacionadas. 

O antissemitismo econômico tem raízes históricas na Europa Medieval e no início da Europa Moderna. Durante séculos, a maior parte das autoridades europeias proibiram os judeus de possuírem terras, de trabalhar na agricultura, e na maioria dos demais ofícios ou ramos de trabalho. Estas restrições eram geralmente motivadas por preconceitos religiosos. Para ganhar a vida, muitos judeus tinham pouca escolha a não ser trabalhar no comércio, fazendo e administrando empréstimos ou na área de câmbio. Para a maioria dos judeus, suas ocupações comerciais eram empreendimentos de pequena escala, como a venda de mercadorias de pequeno porte. Muitos judeus viviam na extrema pobreza. Porém, em alguns poucos casos, algumas poucas famílias judias se tornaram proeminentes e ricas por emprestarem dinheiro a cortes ou reinos. Estes casos atípicos deram origem a distorções e mentiras sobre a riqueza judaica. Essas mentiras foram construídas sobre preconceitos religiosos mais antigos. E, por sua vez, elas inspiraram teorias de conspiração seculares sobre os judeus como usando essa suposta riqueza para manter o poder. 

No século 19, algumas figuras políticas começaram a incorporar ideias econômicas antissemitas às suas teorias políticas. Por exemplo, elas incluíram essas ideias em críticas da Esquerda e Direita ao capitalismo.Os teóricos políticos antissemitas culparam os judeus por sistemas econômicos inteiros, como o Capitalismo e o Socialismo. Esta prática continua no século 21, embora a maioria dos capitalistas, industriais e pessoas extremamente ricas não sejam judias. 

Antissemitismo Nacionalista 

O antissemitismo nacionalista é baseado em estereótipos prejudiciais e degradantes de que os judeus são “estrangeiros” suspeitos ou cidadãos desleais ou antipatrióticos. O antissemitismo nacionalista também afirma que os judeus têm conexões internacionais perigosas e suspeitas. Os antissemitas nacionalistas geralmente usam as palavras “cosmopolita” ou “globalista” como códigos para representar o povo judeu. 

A animosidade nacionalista em relação à exclusão dos judeus remonta ao final do século 18 e início do século 19, época em que o nacionalismo surgiu como uma ideia poderosa na Europa e se espalhou pelo mundo. Muitos intelectuais e escritores nacionalistas definiam sua nação como uma comunidade unida pela história, pela língua, pela religião e pela cultura. Eles muitas vezes questionavam se os judeus poderiam ser membros de sua nação. Baseados nestas novas ideias e preconceitos mais antigos, muitos nacionalistas rotularam o povo judeu como “estrangeiro”. 

No final do século 19, uma forma radical de nacionalismo chamada etnonacionalismo tornou-se popular. O etno-nacionalismo definia a filiação à nação com base na hereditariedade e na etnia. Muitos grupos etno-nacionalistas eram explícita e vocalmente antissemitas. Eles não acreditavam que os judeus pudessem se tornar membros de nenhuma  nação. Movimentos políticos etno-nacionalistas pediam a exclusão oficial dos judeus da vida econômica, social e política de seus países. Alguns até defenderam a expulsão dos judeus de seus países. O crescimento dos movimentos e associações políticas antissemitas etno-nacionalistas continuou nos séculos 20 e 21. O mais notável destes movimentos foi o Partido Nazista. 

Antissemitismo Racial

Nazi racial charts. Germany, between 1935 and 1945.

Tabelas raciais nazistas, pretensamente científicas, publicadas na Alemanha entre 1935 e 1945.

Créditos:
  • Bayerische Staatsbibliothek München

O antissemitismo racial se baseia na ideia discriminatória e falsa de que os judeus são uma raça biologicamente separada, inferior ou mesmo parasita. Este foi um componente-chave da ideologia nazista. O antissemitismo racial continua sendo um elemento significativo do antissemitismo moderno. Pessoas de várias origens e de variadas crenças políticas fazem afirmações falsas sobre a suposta identidade racial dos judeus. 

O antissemitismo racial remonta ao final do século 19. Foi quando as teorias científicas de raça, eugenia e o Darwinismo Social se tornaram populares na Europa, nos Estados Unidos e em outros países. Os antissemitas usaram estas teorias para dar aos seus ódios antijudaicos o verniz da credibilidade científica. Pesquisas atuais sobre o DNA e o genoma humano provam que estas ideias estavam incorretas. Não há qualquer evidência científica para a existência de raças biológicas distintas de qualquer espécie dentre os seres humanos. 

O Bode Expiatório Antissemita e Teorias da Conspiração 

Os antissemitas costumam usar usar os iraelitas como bodes expiatórios e usam teorias da conspiração para retratar o povo judeu como perigoso para a sociedade ou para o mundo. Tal demonização dos judeus começou com o cristianismo primitivo. O uso de bodes expiatórios judeus quando algo vai mal na sociedade e as teorias da conspiração muitas vezes também se baseiam em ideias econômicas, nacionalistas e racistas de longa data. 

Ao longo da história, os antissemitas muitas vezes culparam os judeus por muitos problemas mais gerais na sociedade. Eles usaram os judeus individualmente ou o povo judeu como bodes expiatórios para todos seus problemas. Ao contrário dos fatos e da razão, os antissemitas culparam falsamente os judeus por: 

  • serem os pacientes-zero de pragas e epidemias, tais como a "Peste Negra" (peste bubônica);
  • causarem perdas militares, como o foi com a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial;  
  • difundirem o comunismo e outros movimentos políticos radicais; 
  • orquestrarem o imperialismo europeu, o colonialismo e o comércio de escravos africanos; e
  • causarem crises financeiras, tais como a Grande Depressão.

Nenhuma dessas acusações é verdadeira. 

Os teóricos da conspiração antissemitas procuram explicar os principais eventos mundiais como resultados de tramas secretas realizadas por um grupo obscuro de judeus. Eles retratam os judeus como tenebrosos “manipuladores”.

A mais infame teoria da conspiração antissemita surgiu por volta de 1900 através de uma publicação antissemita intitulada Os Protocolos dos Sábios de Sião. Outras teorias conspiratórias incluem acusações inventadas de que um grupo secreto de judeus controla secretamente a mídia, Hollywood, ou até mesmo o mundo todo. 

Bodes expiatórios judaicos e teorias da conspiração ressurgem e se transformam em tempos de grande tensão ou incerteza social, econômica e política. Grupos políticos antissemitas, como os nazistas, frequentemente se baseiam, adaptam e espalham estas mentiras para ganhar seguidores.

O Antissemitismo na Prática 

Durante séculos, o antissemitismo moldou a forma como as sociedades e pessoas não judias trataram o povo judeu. Governos, autoridades religiosas, clubes privados, escolas, universidades e empresas adotaram leis, práticas ou políticas que discriminam os judeus e restringiam a vida judaica. Os judeus eram, e ainda são, alvos de insultos, caricaturas cruéis e violência interpessoal. 

Políticas e Restrições Antissemitas Oficiais

Desde a Antiguidade, várias autoridades na Europa e em outros continentes impuseram restrições ao povo judeu. Tais restrições eram impostas por leis, decretos e políticas oficiais de instituições religiosas ou governamentais. As maneiras mais comuns pelas quais autoridades e governos religiosos ou seculares atacaram os judeus de alguma forma incluíam: 

  • expulsar os judeus dos territórios onde viviam (por exemplo, da Inglaterra em 1290; da França em 1394; e da Espanha em 1492);
  • marcar visivelmente os judeus usando chapéus, emblemas ou símbolos, dentre eles a "Estrela de Davi";
  • proibir os judeus de possuírem terras;
  • cobrar impostos adicionais sobre o povo judeu e as comunidades judaicas; 
  • aprovar leis que limitam severamente as oportunidades de emprego ou educação para os judeus, como a lei numerus clausus na Hungria em 1920;
  • forçar o povo judeu a se converter ao cristianismo ou ao islamismo sob a ameaça de morte; 
  • proibir que judeus se alistem no serviço militar ou desempenhem trabalho governamental; e
  • limitar áreas onde os judeus podem viver (por exemplo, em guetos ou na "Zona de Assentamento" criada pelo Império Russo). 

Discriminação Social contra Judeus

Durante séculos, muitas instituições, associações ou empresas discriminaram voluntariamente os judeus. Este tipo de discriminação refletia a natureza sistêmica do antissemitismo em muitas sociedades. Formas comuns de discriminação social contra os judeus incluiam: 

  • proibir os judeus de serem membros de clubes privados ou associações profissionais (por exemplo, associações da classe trabalhadora, fraternidades estudantis alemãs no século 19 ou clubes de campo estadunidenses no século 20);
  • proibir que os judeus comprassem propriedades em determinadas áreas geográficas; 
  • proibir estudantes judeus de frequentarem universidades ou limitar o número de estudantes judeus com base em um sistema de cotas; 
  • recusar-se a contratar funcionários judeus; 
  • boicotar empresas de propriedade judaica, como o boicote de Extrema-Direita na Polônia no final da década de 1930; ou
  • difundir mentiras antissemitas e teorias da conspiração contra os judeus na imprensa e na mídia.

Expressões Interpessoais de Antissemitismo

Propaganda cartoon warning of a worldwide Jewish conspiracy.

Charge da propaganda nazista de autoria de Seppla (Josef Plank), um cartunista político. Alemanha, data incerta [provavelmente feita durante a Segunda Guerra Mundial].

A partir da década de 1920, os disseminadores da propaganda nazista passaram a promover o mito antissemita de que os judeus estariam envolvidos em uma conspiração maciça para dominar o mundo. Esta falsificação da realidade alegava que o “judaísmo  internacional” utilizava várias pessoas e grupos como parte de um plano maior para uma conquista do globo, pois naquela época, um polvo estendendo seus tentáculos sobre o globo era uma metáfora visual comum e de fácil entendimento para a difusão desta mentira.

Seppla provavelmente criou esta caricatura no início da década de 1940, quando a Alemanha nazista já havia entrado em guerra contra a Grã-Bretanha. O cartoon mostra o político britânico Winston Churchill como um polvo; e acima de sua  cabeça está a Estrela de David, símbolo judaico. Os tentáculos parecem já estar perdendo seu controle sobre o mundo. No desenho animado, a Europa é mostrada como já livre de seu  controle.

No desenho de Seppla, o polvo parece simbolizar tanto o mito antissemita do “judaísmo internacional” quanto a Grã-Bretanha. A imagem sugere que Churchill é apenas uma ferramenta na suposta “conspiração” [judaica]. A imagem também sugere que os judeus e a Grã-Bretanha serão utlimamente derrotados [pela Alemanha].

 

Durante séculos, estereótipos e preconceitos antissemitas moldaram as interações entre judeus e não judeus. Indivíduos ou grupos antissemitas atacavam judeus: 

  • usando insultos ou contando piadas com base em estereótipos antissemitas e teorias da conspiração; 
  • fazendo caricaturas ou descrevendo o povo judeu como pessoas com nariz em forma de gancho ou outras características desfiguradas; 
  • retratando os judeus como predadores sexuais ou portadores de doenças;
  • desumanizando os judeus através da arte ou em outras imagens populares, retratando-os como porcos, vermes, polvos ou outros animais;
  • rotulando pessoas ou ideias como judias a fim de torná-las alvo de ataque; 
  • vandalizando, queimando ou profanando sinagogas, cemitérios, escolas ou outros espaços religiosos e comunitários judaicos; e 
  • espancando, atacando ou até mesmo assassinando indivíduos que “pareciam” ser judeus.

Embora as políticas e restrições antissemitas sejam menos comuns hoje em dia, as expressões de preconceitos antissemitas ainda ocorrem nas ruas, no discurso político, em igrejas, nas mesquitas, nos campi das universidades e nas salas de aula, na imprensa, nas mídias sociais e no rádio.

Violência em Massa Contra Judeus

O antissemitismo muitas vezes culminou em violência em massa contra o povo judeu. O uso antissemita dos judeus como bodes-expiatórios e teorias da conspiração frequentemente motivam os antissemitas a atacarem o povo judeu com violência. O fato de os judeus serem uma minoria populacional na Europa os deixou vulneráveis a ataques cruéis.

Alguns dos exemplos mais notórios de violência em massa contra o povo judeu antes do Holocausto incluem: 

  • massacres de comunidades judaicas inteiras por soldados cristãos durante as Cruzadas na Idade Média;
  • tortura e execução de judeus por autoridades espanholas católicas durante a Inquisição Espanhola (1478-1834) [também pelas autoridades portuguesas]; 
  • ataques contra comunidades judaicas perpetrados em toda a Europa pela população local em resposta a acusações de Libelo de Sangue, geralmente ligadas à Páscoa cristã que é celebrada próxima aos feriados da Festa [judaica] da Libertação dos Hebreus do Egito; e
  • pogroms (levantes antijudaicos muitas vezes mortais) perpetrados por soldados, policiais e populações locais no leste da Europa no final do século 19 e início do século 20. 

No entanto, a escala de violência e assassinato em massa antissemita durante o Holocausto (1933-1945) está em uma categoria própria. Os nazistas, seus aliados e colaboradores assassinaram seis milhões de judeus neste processo de genocídio sistemático patrocinado pelo Estado. Os nazistas incitaram as pessoas a cometerem genocídio baseando-se em séculos de preconceitos e ódios antissemitas.  

Mas o Holocausto não marcou o fim da violência em massa antissemita. A violência antissemita continua sendo uma ameaça ao povo e às organizações judaicas em todo o mundo.  

Distorção e Negação do Holocausto como Formas de Antissemitismo  

A negação e a distorção do Holocausto são as formas mais recentes de antissemitismo. 

  • A negação do Holocausto é qualquer tentativa de negar os fatos provados com certeza absoluta do genocídio dos judeus europeus efetudo pelos nazistas alemães.
  • A distorção do Holocausto é qualquer declaração que deturpe fatos historicamente estabelecidos sobre o Holocausto. 

A negação e a distorção do Holocausto exploram e atualizam estereótipos antissemitas mais antigos. As pessoas que espalham estas teorias irracionais afirmam que o Holocausto foi inventado ou exagerado pelos judeus para promoverem seus próprios interesses.

No final dos séculos 20 e início do 21, alguns antissemitas exploram a história documentada do Holocausto ou a usam indevidamente ao: 

  • usar símbolos nazistas (especialmente a suástica) para intimidar ou aterrorizar o povo judeu; 
  • ameaçar o povo judeu através de referências a câmaras de gás ou fornos;
  • traçar analogias entre o Estado de Israel e a Alemanha nazista; e
  • fazer comparações que distorcem, minimizam ou banalizam os crimes historicamente documentados cometidos durante o Holocausto. 

Um Ódio Multifacetado e Duradouro 

Este conjunto de crenças e ideias odiosas tem profundas raízes históricas, sociais e culturais. Hoje, ideias e estereótipos antissemitas são mantidos por pessoas de diferentes origens religiosas, étnicas e sociais e de todo o espectro político, incluindo a Esquerda e a Direita. Elas empregam figuras de linguagem antissemitas odiosas, estereótipos e teorias da conspiração para promover suas pautas ideológicas. Ao fazer isto, eles demonizam e desumanizam os judeus. 

O antissemitismo geralmente começa como retórica, com insultos, e transformação dos judeus em bodes expiatórios. Mas a história mostra que o antissemitismo pode se transformar em uma discriminação mais extensa, através da desumanização, da violência em massa, e do genocídio.

Pés-de-página

  1. Footnote reference1.

    Isto é denominado como “Supersessionismo” ou “Teologia da Substituição”.

  2. Footnote reference2.

    Durante séculos, muitos cristãos acreditaram que os judeus cometeram deicídio matando Cristo, quando, na verdade, Jesus foi morto pelas autoridades romanas que dominavam a Província da Judéia na ocasião. Infelizmente, ainda existem líderes de várias tradições cristãs que mantêm  esta falsa crença em seus ensinamentos oficiais. Foi apenas no final do século 20 que algumas igrejas cristãs declararam a acusação de deicídio como falsa. Por exemplo, a Igreja Católica Apostólica Romana repudiou estas mentiras como resultado do consenso obtido no Concílio Vaticano II realizado em 1965 sob o Papa João XXIII.

  3. Footnote reference3.

    Muitos estereótipos cristãos antijudaicos remontam à figura de Judas Iscariotes, no século 1 EC, que, como Jesus, era judeu. Segundo as  escrituras cristãs aprovadas pelas autoridades de então, Judas traiu Jesus em troca de 30 moedas de prata. Na Europa dominada pelos cristãos, esse retrato se transformou em um estereótipo odioso dos judeus, simbolizados por Judas, como traiçoeiros e gananciosos.

  4. Footnote reference4.

    No final da Idade Média e início do período moderno, muitos cristãos acusaram os judeus de trabalharem para o demônio ou serem o próprio diabo. Estas afirmações se tornaram uma parte aceita de vários tratados de autores cristãos, de teologia, peças sobre moralidade, contos folclóricos e arte. Notavelmente, Martinho Lutero, o teólogo que iniciou a Reforma Protestante em 1517, escreveu um tratado ofensivo sobre os judeus em 1543. Enfurecido porque os judeus não se converteram à sua forma de cristianismo após a  Reforma, ele hostilmente rotulou os judeus como descendentes do diabo. Os artistas cristãos muitas vezes retrataram os judeus como o diabo ou como figuras semelhantes a animais com chifres, garras, dentes irregulares e/ou pés fendidos.

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