Stretcher bearers carry a wounded soldier during the Battle of the Somme.

A Primeira Guerra Mundial

DEFLAGRAÇÃO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A Primeira Guerra Mundial iniciou o primeiro grande conflito internacional do século vinte. O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, e de sua esposa, a arquiduquesa Sofia, em Saraievo, no dia 28 de junho de 1914, desencadeou as hostilidades que começaram em agosto de 1914 e se prolongaram por várias frentes durante os quatro anos seguintes.

Stretcher bearers carry a wounded soldier during the Battle of the Somme.

Em uma maca, carregadores levam um soldado ferido durante a Batalha do Rio Somme, durante a Primeira Guerra Mundial.  França, setembro de 1916. 

IWM (Q 1332)

 

Créditos:
  • Imperial War Museum - Photograph Archive

AS POTÊNCIAS UNIDAS VERSUS OS PODERES CENTRAIS NA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Durante a Primeira Guerra Mundial, as Potências Unidas – Grã-Bretanha, França, Sérvia e Rússia Imperial (às quais se uniram posteriormente Grécia, Portugal, Romênia e Estados Unidos) – lutaram contra as Potências Centrais - Alemanha e Império Austro-Húngaro (às quais se uniram posteriormente o Império Turco Otomano e a Bulgária).

IMPASSE

O entusiasmo inicial de todos os contedores acreditando que haveria uma vitória rápida e decisiva desapareceu quando a Guerra começou a se arrastar, marcada por infindáveis, com grandes perdas humanas e materiais, e os terríveis combates nas trincheiras, particularmente na Linha de Frente Ocidental da Guerra. O sistema de trincheiras e fortificações naquela Frente se estendia por 760 quilômetros aproximadamente, do Mar do Norte à fronteira suíça, e definiu a Guerra para a maioria dos combatentes dos EUA e do oeste europeu. Apesar da grande extensão da Frente Oriental, a qual impedia combates em larga escala nas trincheiras, o volume do conflito foi igual ao da Frente Ocidental. Houve muitas batalhas também no norte da Itália, nos Bálcãs e no Império Otomano. Combates eram travados na terra, no mar e, pela primeira vez, no ar [OBS: início da aviação bélica].

ENTRADA DOS ESTADOS UNIDOS NA PRIMEIRA GUERRA

Uma mudança decisiva em relação às hostilidades ocorreu em abril de 1917, quando a política de guerra submarina irrestrita da Alemanha fez com que os EUA abandonassem sua posição de isolacionismo e tomassem parte central no conflito. Novas tropas e equipamentos militares das Forças Expedicionárias Americanas (AEF), sob a liderança do general John J. Pershing, adicionados a um bloqueio cada vez mais rigoroso dos portos alemães, ajudaram a alterar o equilíbrio do esforço de guerra, proporcionando uma vantagem para as Potências Unidas.

A REVOLUÇÃO RUSSA

Essa nova vantagem para as forças unidas foi inicialmente contrabalançada por eventos ocorridos no palco oriental da Guerra. Desde o início de 1917, a Rússia, uma das principais Potências Unidas, encontrava-se muito tumultuada. Em fevereiro daquele mesmo ano, as grandes dificuldades do governo czarista para administrar a guerra ajudaram a incentivar um levante popular que ficou conhecido como “A Revolução de Fevereiro”. Esta revolução forçou a abdicação do Czar Nicolau II e colocou no poder um Governo Provisório formado por facções liberais e socialistas, e posteriormente Alexander Kerensky, membro do partido Socialista Revolucionário, tornou-se seu líder. A breve experiência com a democracia pluralista foi caótica, e de junho a setembro a contínua deterioração dos esforços de guerra e uma situação econômica cada vez mais precária, fizeram com que os trabalhadores, soldados e marinheiros russos se rebelassem ("Os Dias de Julho").

De 24 a 25 de outubro de 1917, forças bolcheviques (socialistas de esquerda) sob a liderança de Vladimir Lenin tomaram os prédios governamentais mais importantes, invadiram o Palácio de Inverno e, em seguida, a sede do novo governo na então capital da Rússia, Petrogrado (atual São Petersburgo). A "Grande Revolução Socialista de Outubro", o primeiro golpe marxista bem-sucedido da história, derrubou o ineficiente Governo Provisório e, finalmente, estabeleceu uma República Socialista Soviética sob a liderança de Lenin. As radicais reformas sociais, políticas, econômicas e agrárias do novo estado soviético iriam, nos anos pós-Guerra, preocupar os governos democráticos ocidentais que de tal modo temiam a difusão do comunismo por toda a Europa que estavam mesmo dispostos a fazer acordos com regimes de direita (inclusive com o da Alemanha nazista de Adolf Hitler) nos anos de 1920 e 1930.

Os efeitos imediatos da Revolução Russa no cenário europeu foram dois: uma brutal e duradoura Guerra Civil em território russo (1917-1922) e a decisão da nova liderança bolshevique em fazer um acordo de paz em separado com o Kaiser da Alemanha. Quando as negociações não atenderam às exigências alemãs, o exército alemão lançou uma ofensiva total contra a Frente Oriental [onde estava a Rússia], que teve que aceitar a assinatura de um tratado de paz em Brest-Litovsk, no dia 6 de março de 1918.

O AVANÇO DOS PODERES UNIDOS E A RENDIÇÃO DOS PODERES CENTRAIS

A view of part of the Maginot Line, a French defensive wall built after World War I to deter a German invasion.

Vista de um trecho da "Linha Maginot", um muro de caráter defensivo construído pelos franceses após a Primeira Guerra Mundial para deter a invasão alemã. Foto tirada na França, em torno de junho de 1940.

Créditos:
  • US Holocaust Memorial Museum

Apesar das conquistas alemãs, que tiraram a Rússia bolchevique da Guerra no final de 1918 e cujas tropas chegaram aos portões de Paris em meados do ano seguinte, os exércitos dos Poderes Unidos conseguiram vencer o exército alemão no rio Marne. A partir de então, eles avançaram persistentemente em direção às linhas alemãs na Frente Ocidental, de 8 de agosto a 11 de novembro de 1918, operação que ficou conhecida como “A Ofensiva dos Cem Dias".

As Potências Centrais começaram a se render, iniciando-se pela Bulgária e pelo Império Otomano [atual Turquia e Oriente Médio], em setembro e outubro, respectivamente. Em 3 de novembro, as forças austro-húngaras assinaram uma trégua próximo a Pádua, na Itália. Na Alemanha, em Kiel, a rebelião dos marinheiros da marinha daquele país desencadeou uma grande revolta nas cidades costeiras alemãs e nas principais áreas municipais de Hannover, Frankfurt em Main e Munique. Conselhos de trabalhadores e soldados, baseados no modelo soviético, incitaram a eclosão da chamada "revolução alemã"; foi estabelecida a primeira "república de conselhos" (Räterrepublik) sob a liderança do Social-Democrata Independente (USPD), Kurt Eisner, na Bavária. O forte Partido Social-Democrata (SPD) Alemão, sob a direção de Friedrich Ebert, viu aqueles novos conselhos como elementos desestabilizadores e defendeu a opinião popular alemã que clamava por uma reforma parlamentar e pela paz.

ARMISTÍCIO

Em 9 de novembro de 1918, em meio à agitação difundida entre a população e abandonado pelos comandantes do seu exército, o Imperador (Kaiser) Guilherme II abdicou do trono alemão. No mesmo dia, Philipp Scheidemann, representante do SPD, proclamou a república na Alemanha, com um governo provisório liderado por Friedrich Ebert. Dois dias depois, os representantes alemães, liderados pelo representante do Partido Católico Central (Zentrum), Matthias Erzberger, se reuniram, em um trem na Floresta de Compiègne, com uma delegação das vitoriosas Potências Unidas, lideradas pelo Marechal-de-Campo francês Ferdinand Foch, o comandante geral das forças unidas, e a Alemanha aceitou os termos do armistício.

Às 11 horas do dia 11 de novembro (11/11) de 1918, os combates na Frente Ocidental cessaram. A "Grande Guerra", como seus contemporâneos a denominavam, havia terminado mas o enorme impacto do conflito nas esferas internacionais, políticas, econômicas e sociais ainda seria sentido por décadas.

PERDAS DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A Primeira Guerra Mundial foi uma das guerras mais destrutivas da história moderna. Quase dez milhões de soldados morreram como resultado das lutas, um número que excedeu, em muito, as perdas militares de todas as guerras dos cem anos anteriores em conjunto. Embora seja difícil fazer uma estimativa precisa do número de baixas, calcula-se que aproximadamente 21 milhões de homens foram feridos em combate.

O grande número de perdas para todos os participantes do conflito deveu-se, em parte, à introdução de novos armamentos, como a metralhadora e o emprego de gás, e também à incapacidade dos líderes militares de ajustarem suas táticas à natureza cada vez mais mecanizada da guerra. A política de atritos, especialmente na Frente Ocidental, custou a vida de centenas de milhares de soldados. No dia 1º de julho de 1916, a data em que houve o maior número de baixas em um único dia, só o exército britânico ,no rio Somme, perdeu cerca de 57.000 soldados. A Alemanha e a Rússia tiveram o maior número de baixas militares: cerca de 1.773.700 e 1.700.000 mortos, respectivamente. A França perdeu dezesseis por cento de suas forças mobilizadas, a mais alta taxa de mortalidade em relação ao número de tropas em combate.

Nenhum órgão oficial manteve registros cuidadosos das perdas civis durante os anos de guerra, mas estudiosos garantem que pelo menos 13.000.000 de não-combatentes também morreram como resultado direto ou indireto das hostilidades. Houve também um enorme aumento na mortalidade de militares e civis no fim da Guerra com a chegada da "Gripe Espanhola", a epidemia de gripe mais letal da história. Milhões de pessoas foram expulsas ou deslocadas de suas residencias na Europa e na Ásia Menor como resultado do conflito. As perdas de propriedades e de indústrias foram catastróficas, principalmente na França e na Bélgica, areas onde os combates foram os mais intensos.

German territorial losses, Treaty of Versailles, 1919

A Alemanha foi vencida na Primeira Guerra Mundial. Em 1919, aquele país assinou um acordo, conhecido como "O Tratado de Versalhes", com os países vitoriosos (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outros países aliados), os quais exigiram o pagamento de reparações econômicas, militares e territoriais aos países atacados pela Alemanha. A oeste, a Alemanha devolveu a região da Alsácia-Lorena à França; aquela área havia sido tomada dos franceses pelos alemães cerca de 40 anos antes. A Bélgica recebeu as cidades de Eupen e Malmedy. A região industrial de Sarre foi mantida sob a administração da Liga das Nações por 15 anos. A Dinamarca recebeu a região norte de Schleswig. Por fim, a Renânia foi desmilitarizada, ou seja, não ficou nenhum soldado ou instalação militar na região. A leste, a Polônia recebeu partes da Prússia Ocidental e da Silésia. A Tchecoslováquia recebeu o distrito de Hultschin. A grande cidade alemã de Danzig passou a ser uma cidade livre, sob a proteção da Liga das Nações. Memel, uma pequena faixa territorial na Prússia Oriental, às margens do Mar Báltico, foi entregue ao controle lituano. Fora da Europa, a Alemanha perdeu todas as suas colônias [na Africa e no Pacífico]. No total, a Alemanha perdeu 13 por cento do seu território em solo europeu, aproximadamente 70.000 quilômetros quadrados, e um décimo de sua população (entre 6.5 a 7 milhões de habitantes).

Créditos:
  • US Holocaust Memorial Museum

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