Allied delegates in the Hall of Mirrors at Versailles witness the German delegation's acceptance of the terms of the Treaty Of Versailles, ...

O Tratado de Versalhes

Após a devastação da Primeira Guerra Mundial, as potências vitoriosas impuseram uma série de tratados rígidos às nações derrotadas. Entre esses tratados, o Tratado de Versalhes, de 1919, responsabilizou a Alemanha pelo início da Guerra. A Alemanha tornou-se responsável pelo pagamento de danos materiais maciços. A vergonha pela derrota e o acordo de paz de 1919 desempenharam um papel importante na ascensão do nazismo na Alemanha e no surgimento de uma segunda "guerra mundial" apenas 20 anos depois.

Fatos-Chave

  • 1

    O tratado exigia a desmilitarização da área da Renânia, a perda de 13% dos territórios pré-Guerra da Alemanha, e extensos pagamentos de reparações financeiras por aquele país.

  • 2

    O tratado continha uma "cláusula de culpa pela guerra". Esta cláusula responsabilizou completamente a Alemanha pelo início da Primeira Guerra Mundial.

  • 3

    Os efeitos da Primeira Guerra Mundial e sua paz divisiva ecoaram pelas décadas seguintes, dando origem a uma segunda guerra mundial e a um genocídio cometido sob sua cobertura.

Histórico: O impacto da Primeira Guerra Mundial

Stretcher bearers carry a wounded soldier during the Battle of the Somme.

Em uma maca, carregadores levam um soldado ferido durante a Batalha do Rio Somme, durante a Primeira Guerra Mundial.  França, setembro de 1916. 

IWM (Q 1332)

 

Créditos:
  • Imperial War Museum - Photograph Archive

A Primeira Guerra Mundial foi uma das guerras mais destrutivas da história moderna. Os lados opostos na Primeira Guerra Mundial foram as Potências da Entente [França, Reino Unido e o Império Russo] e as Potências Centrais [Império Alemão e Império Austro-Húngaro].

Quase 10 milhões de soldados morreram nesta guerra. O grande número de perdas foi o resultado da introdução de novas armas, tais como a metralhadora e a guerra química. Os líderes militares não conseguiram ajustar suas táticas à natureza cada vez mais mecanizada da guerra. Uma política de atritos, especialmente na Frente Ocidental, custou a vida de centenas de milhares de soldados.

Nenhuma agência oficial acompanhou cuidadosamente o número das perdas civis durante os anos da Guerra. Estudiosos estimam que até treze milhões de não-combatentes morreram como resultado direto ou indireto das hostilidades. O conflito desenraizou ou deslocou milhões de pessoas de suas casas na Europa e na Ásia Menor.

As perdas de propriedades privadas e de indústrias foram catastróficas, principalmente na França, Bélgica, Polônia, e Sérvia, países onde os combates foram mais intensos.

Histórico: Os "Quatorze Pontos"

Em janeiro de 1918, cerca de dez meses antes do fim da Primeira Guerra Mundial, o presidente norte-americano Woodrow Wilson havia elaborado uma lista que propunha objetivos para após a Guerra, por ele denominados como "Os Quatorze Pontos".

Oito destes pontos tratavam especificamente de assentamentos territoriais e políticos para acompanhar uma vitória das Potências da Entente (Grã-Bretanha, França e Rússia). Um ponto muito importante foi a ideia de autodeterminação nacional para as populações étnicas na Europa. Outros pontos focavam na prevenção de guerras no futuro. O último princípio propunha a criação de uma Liga das Nações para arbitrar disputas internacionais. Wilson esperava que sua proposta resultasse em uma paz justa e duradoura: uma "paz sem vitória".

Os líderes alemães assinaram o armistício (um acordo para parar de lutar) na Floresta de Compiègne em 11 de novembro de 1918. Muitos deles acreditavam que os Quatorze Pontos formariam a base do futuro tratado de paz mas, quando os chefes dos governos dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha, da França e da Itália se reuniram em Paris para discutir os termos do tratado, os "Quatro Grandes" países europeus rejeitaram tal  abordagem.  

Após a devastação da Primeira Guerra Mundial, as potências ocidentais vitoriosas (Grã-Bretanha, Estados Unidos, França e Itália, conhecidas como as "Quatro Grandes") impuseram uma série de tratados às Potências Centrais derrotadas (Alemanha, Áustria-Hungria, Bulgária e Turquia).

Como consideravam a Alemanha a principal instigadora do conflito, as potências aliadas europeias decidiram impor termos severos do Tratado à Alemanha derrotada. O Tratado foi apresentado à delegação alemã para assinatura em 7 de maio de 1919, no Palácio de Versalhes, perto de Paris. O Tratado de Versalhes responsabilizou a Alemanha por iniciar a Guerra e por causar danos materiais maciços.

Disposições do Tratado de Versalhes

A Alemanha perdeu 13% do seu território, incluindo 10% da sua população. O Tratado de Versalhes obrigou a Alemanha a:

  • conceder Eupen-Malmédy [uma pequena região predominantemente germanófona no leste da Bélgica] à Bélgica;
  • conceder o distrito de Hultschin à Tchecoslováquia;
  • conceder Poznan, Prússia Ocidental e Alta Silésia à Polônia;
  • devolver a Alsácia e a Lorraine, anexadas à França em 1871 após a guerra franco-prussa.

O Tratado pedia:

  • a desmilitarização e a ocupação da Renânia;
  • o estatuto especial para o Sarre sob controle francês;
  • referendos para determinar o futuro de áreas no norte de Schleswig, na fronteira dinamarquesa-alemã e partes da Alta Silésia, na fronteira com a Polônia.

Além disso, todas as colônias ultramarinas alemãs foram retiradas do controle alemão e se tornaram Mandatos da Liga das Nações. A cidade de Danzig (atualmente chamada de Gdansk), com sua grande população etnicamente alemã, tornou-se uma Cidade Livre.

German territorial losses, Treaty of Versailles, 1919

A Alemanha foi vencida na Primeira Guerra Mundial. Em 1919, aquele país assinou um acordo, conhecido como "O Tratado de Versalhes", com os países vitoriosos (Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e outros países aliados), os quais exigiram o pagamento de reparações econômicas, militares e territoriais aos países atacados pela Alemanha. A oeste, a Alemanha devolveu a região da Alsácia-Lorena à França; aquela área havia sido tomada dos franceses pelos alemães cerca de 40 anos antes. A Bélgica recebeu as cidades de Eupen e Malmedy. A região industrial de Sarre foi mantida sob a administração da Liga das Nações por 15 anos. A Dinamarca recebeu a região norte de Schleswig. Por fim, a Renânia foi desmilitarizada, ou seja, não ficou nenhum soldado ou instalação militar na região. A leste, a Polônia recebeu partes da Prússia Ocidental e da Silésia. A Tchecoslováquia recebeu o distrito de Hultschin. A grande cidade alemã de Danzig passou a ser uma cidade livre, sob a proteção da Liga das Nações. Memel, uma pequena faixa territorial na Prússia Oriental, às margens do Mar Báltico, foi entregue ao controle lituano. Fora da Europa, a Alemanha perdeu todas as suas colônias [na Africa e no Pacífico]. No total, a Alemanha perdeu 13 por cento do seu território em solo europeu, aproximadamente 70.000 quilômetros quadrados, e um décimo de sua população (entre 6.5 a 7 milhões de habitantes).

Créditos:
  • US Holocaust Memorial Museum

Talvez a parte mais humilhante do tratado para a Alemanha derrotada tenha sido o Artigo 231, popularmente conhecido como "Cláusula sobre a Culpa pela Guerra". Esta cláusula forçou a nação alemã a aceitar toda a responsabilidade pelo início da Primeira Guerra Mundial. Como tal, a Alemanha foi responsabilizada por ressarcir todos os danos materiais causados.

O primeiro-ministro da França, Georges Clemenceau, em particular, insistiu na imposição de pesados pagamentos de reparação. Mesmo sabendo que a Alemanha provavelmente não teria como pagar tamanha dívida, Clemenceau e os franceses ainda temiam uma rápida recuperação econômica alemã e uma nova guerra contra a França.

Os franceses procuraram limitar o potencial da Alemanha para recuperar sua superioridade econômica e também de se rearmar. O exército alemão deveria ser limitado a 100.000 homens. O recrutamento foi proibido. O tratado restringia a Marinha a embarcações com menos de 10.000 toneladas, com uma proibição de adquirir ou manter uma frota de submarinos. A Alemanha também foi proibida de manter uma força aérea.

Por fim, a Alemanha foi obrigada a conduzir processos de crimes de guerra contra o Kaiser [imperador alemão] e outros líderes por travarem  uma guerra de agressão. Os julgamentos subsequentes de Leipzig, sem o Kaiser ou outros líderes nacionais significativos no banco dos réus, resultaram em muitas absolvições. Eles foram amplamente percebidos como uma farsa, até mesmo na Alemanha.

Impacto do Tratado

Os duros termos do tratado de paz não ajudaram a resolver as disputas internacionais que haviam dado início à Primeira Guerra Mundial. Pelo contrário, o Tratado dificultou a cooperação entre os países europeus e agravou as questões básicas que deram origem ao conflito.

Para as populações das potências derrotadas--Alemanha, Áustria, Hungria e Bulgária--os tratados de paz pareciam uma punição injusta, e seus respectivos governos rapidamente passaram a violar os termos militares e financeiros dos tratados. Isso ocorreu tanto em governos democráticos, como na Alemanha e na Áustria, quanto em regimes autoritários, como na Hungria e na Bulgária. Os esforços para revisar e desafiar as disposições de paz tornaram-se um elemento-chave em suas políticas externas e um fator desestabilizador na política internacional.

Uma "Paz Forçada"?

O novo governo democrático alemão via o Tratado de Versalhes como uma "paz ditada/forçada" (Diktat). A cláusula pela culpa da guerra, os pesados pagamentos de reparação e as limitações às forças armadas alemãs pareciam particularmente opressivas para a maioria dos alemães. Para muitos deles, o tratado parecia contradizer o primeiro dos Quatorze Pontos de Wilson, que pedia transparência nas negociações de paz e na diplomacia. A busca pela revisão do Tratado de Versalhes foi uma das pautas que deu aos partidos radicais de direita na Alemanha grande credibilidade junto aos eleitores tradicionais nas décadas de 1920 e início de 1930. Entre tais partidos estava o Partido Nazista de Adolf Hitler.

Promessas de se rearmar, recuperar o território alemão, remilitarizar a Renânia e recuperar sua proeminência europeia e mundial após a humilhante derrota e o tratado de paz apelavam ao sentimento ultranacionalista. Essas promessas ajudaram alguns eleitores comuns a ignorarem os princípios mais radicais da ideologia nazista.

As reparações financeiras e um período inflacionário geral na Europa na década de 1920 causaram uma hiperinflação em espiral da moeda Reichsmark alemã em 1923. Esse período hiperinflacionário, combinado com os efeitos da Grande Depressão (a partir de 1929), minou a estabilidade da economia alemã. Essas condições acabaram com as economias pessoais da classe média e levaram a um desemprego maciço. Esse caos econômico contribuiu para a inquietação social e a instabilidade da frágil República de Weimar.

A Lenda da Punhalada Pelas Costas

Finalmente, os esforços das potências da Europa Ocidental para marginalizar a Alemanha pelo Tratado de Versalhes minaram e isolaram os líderes alemães democráticos.

Alguns membros da população acreditavam que a Alemanha havia sido "apunhalada pelas costas" pelos "criminosos de novembro", aqueles políticos e burocratas que ajudaram a formar o novo governo de Weimar e a negociar a paz. Muitos alemães "esqueceram" que haviam apoiado a queda do imperador alemão, que inicialmente saudaram a reforma democrática parlamentar e que haviam comemorado o armistício. Eles se lembravam apenas que a Esquerda alemã, popularmente vista como socialistas, comunistas e judeus, havia rendido a honra alemã a uma paz vergonhosa.

Essa Dolchstosslegende (lenda da punhalada pelas costas) ajudou a desacreditar os círculos socialistas e liberais alemães que estavam mais comprometidos com o frágil experimento democrático da República de Weimar na Alemanha. As dificuldades causadas pela inquietação social e econômica após a Primeira Guerra Mundial e sua “paz ditada” minaram as soluções democráticas propostas pela Alemanha no período de Weimar.

Os eleitores alemães acabaram encontrando um tipo de liderança autoritária e ultranacionalista em Adolf Hitler e seu Partido Nazista.

Veja O caminho para o genocídio nazista.

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