German soldiers direct artillery against a pocket of resistance during the Warsaw ghetto uprising.

A Revolta do Gueto de Varsóvia

O céu de Varsóvia estava vermelho. Completamente vermelho.
Benamin Meed (História Oral)

Ben era uma das quatro crianças nascidas em uma família judia religiosa. A Alemanha invadiu a Polônia no dia 1º de setembro de 1939. Depois que os alemães ocuparam Varsóvia, Ben decidiu fugir para o leste da Polônia que estava ocupado pelos soviéticos. Entretanto, ele logo decidiu voltar para sua família, que se encontrava no gueto de Varsóvia. Ben foi designado para um groupo de trabalho fora do gueto e ajudou a contrabandear pessoas para fora do gueto--incluindo Vladka (Fagele) Peltel, um membro da Organização Judaica Combatente (ZOB) que mais tarde viria a ser sua esposa. Depois disso, ele se escondeu fora do gueto e fingiu ser um polonês não-judeu. Durante a revolta do gueto de Varsóvia em 1943, Ben agiu com outros membros da resistência para resgatar os combatentes do gueto, tirando-os de lá através da rede de esgotos e escondendo-os no lado "ariano" de Varsóvia. Após a revolta, Ben conseguiu fugir de Varsóvia fingindo ser um não-judeu. Após a libertação, ele reencontrou seu pai, sua mãe e sua irmã mais nova.

Créditos:
  • US Holocaust Memorial Museum Collection

Em 19 de abril de 1943, tão logo as tropas alemãs e a polícia nazista entraram no gueto para iniciar a deportação de seus habitantes, foi iniciado um levante: a Revolta do Gueto de Varsóvia. No dia 16 de maio, daquele mesmo ano, os alemães conseguiram esmagar a luta dos judeus por sua sobrevivência e deixaram a área em ruínas. Os prisioneiros que conseguiram sobreviver foram deportados para campos de concentração ou campos de extermínio.

Histórico

Major deportations to killing centers, 1942-1944

Em janeiro de 1942, teve lugar em Berlim a Conferência de Wannsee. Nela, reuniram-se dirigentes das SS (a guarda de elite do estado nazista) e representantes dos ministérios do governo alemão para examinar seu projeto de Solução Final, ou seja, o plano nazista para exterminar os judeus da Europa. Naquela reunião, os participantes chegaram à conclusão de que, para alcançar seus objetivos, seria necessário eliminar 11 milhões de judeus europeus, incluindo os de países não ocupados pelo governo nazista, tais como a Irlanda, a Suécia, a Turquia [sic] e a Grã-Bretanha. Os judeus da Alemanha e dos países ocupados pelos nazistas foram deportados de trem para os campos de extermínio na Polônia ocupada, onde foram mortos. Os alemães tentaram encobrir suas suas intenções, referindo-se às deportações como "recolonização das terras do leste". Eles diziam às vítimas que elas estavam sendo levadas para campos de trabalho. Na realidade, de 1942 em diante, para a maioria dos judeus, a deportação significava ser levado para os centros de extermínio e para a morte.

Créditos:
  • US Holocaust Memorial Museum

Entre os dias 22 de julho e 12 de setembro de 1942, as autoridades alemãs deportaram ou assassinaram cerca de 300.000 judeus que estavam aprisionados no Gueto de Varsóvia. As unidades das SS e da polícia deportaram 265.000 judeus para o centro de extermínio de Treblinka e levaram outros 11.580 para os campos de trabalho escravo. Os alemães e seus asseclas assassinaram mais de 10.000 judeus do gueto no decorrer daquelas operações. As autoridades alemãs concederam permissão a apenas 35.000 judeus para que lá permanecessem, mas mais de 20.000 outros israelitas lá continuaram, escondidos. Para aqueles 55.000 a 60.000 judeus que permaneceram no gueto, a deportação parecia inevitável.

Em 28 de julho de 1942, como reação às deportações, várias organizações judaicas clandestinas criaram uma unidade armada de autodefesa, conhecida como Organização Judaica de Combate (Zydowska Organizacja Bojowa/ ZOB). Segundo estimativas rudimentares, o número de membros da ZOB, quando de sua criação, era de aproximadamente 200 membros. O Partido Revisionista (formado por sionistas de orientação política à direita, conhecido como Betar) formou outra organização de resistência, a União Militar Judaica (Zydowski Zwiazek Wojskowy/ZZW). Embora no início houvesse tensão entre a ZOB e a ZZW, os dois grupos decidiram trabalhar em conjunto para resistir às tentativas alemãs de destruição do gueto. No momento da revolta, a ZOB tinha aproximadamente 500 combatentes em suas fileiras e a ZZW cerca de 250.

Durante o verão de 1942 os esforços para estabelecer contato com o exército clandestino da resistência polonesa livre (Armia Krajowa, ou Exército da Pátria) não tiveram sucesso, mas em outubro daquele mesmo ano a ZOB finalmente conseguiu estabelecer uma ponte com aquela organização e, através de contatos pessoais, conseguiu uma pequena quantidade de armas, principalmente pistolas e explosivos.

Em outubro de 1942, o chefe das SS, Heinrich Himmler, ordenou a destruição do gueto e a deportação dos residentes ainda físicamente capazes para os campos de trabalho escravo no Generalgouvernement do Distrito de Lublin. De acordo com aquelas ordens, as tropas das SS e unidades da polícia tentaram retomar a deportação em massa dos judeus de Varsóvia no dia 18 de janeiro de 1943. Um grupo de combatentes judeus, armados com pistolas, infiltrou-se dentro de uma coluna de israelitas forçados a marchar dos campos até o Umschlagplatz (ponto de transferência) e, a um sinal predeterminado, saiu das fileiras e lutou contra a escolta alemã. A maioria daqueles combatentes morreu na batalha, mas o ataque desorientou os alemães por algum tempo, o suficiente para permitir que os judeus que marchavam em colunas tivessem a chance de se dispersar. Após prender entre 5.000 a 6.500 residentes do gueto para enviá-los aos campos, os alemães suspenderam as deportações adicionais no dia 21 de janeiro.

Encorajados pelo aparente sucesso da resistência, a qual eles acreditavam haver causado a suspensão das deportações, os membros do gueto começaram a construir casamatas e abrigos subterrâneos em preparação para uma revolta, caso os alemães tentassem uma deportação final de todos os judeus que restavam naquele local, já muito reduzido populacionalmente.

19 de Abril de 1943 – 16 de Maio de 1943

As forças alemãs pretendiam iniciar a operação para destruir o gueto de Varsóvia no dia 19 de abril de 1943, véspera da Páscoa judaica [Pessach]. Naquela manhã, quando as unidades das SS e da polícia entraram no gueto, elas se depararam com as ruas desertas. Quase todos os residentes do local haviam fugido para esconderijos ou casamatas. A renovação das deportações foi o sinal para a eclosão de uma revolta armada dentro do gueto.

O comandante da ZOB, Mordecai Anielewicz, com apenas 24 anos, liderou os combatentes judeus na revolta do gueto de Varsóvia. Armados com pistolas, granadas (muitas delas caseiras), e algumas poucas armas automáticas e rifles, os combatentes da ZOB aturdiram os alemães e seus auxiliares no primeiro dia de luta, obrigando as forças alemãs a se retirarem para fora dos muros do gueto. O comandante alemão, o general das SS Jurgen Stroop, reportou a perda de 12 de seus homens, dentre mortos e feridos, durante o primeiro assalto ao gueto.

No terceiro dia da revolta, as forças da polícia e das SS, comandadas por Stroop, começaram a arrasar completamente o gueto, edifício por edifício, para forçar os judeus remanescentes a saírem de seus esconderijos. Os combatentes israelitas da força de resistência faziam ataques esporádicos de dentro de suas casamatas, mas sistematicamente os alemães reduziram o gueto a escombros. As forças alemãs mataram Anielewicz e aqueles que com ele estavam, em um ataque à casamata do comando da ZOB na rua Mila número 18, a qual eles capturaram no dia 8 de maio.

Embora as forças alemãs tenham vencido a resistência militar organizada pelos judeus poucos dias após o início da revolta, alguns indivíduos e pequenos grupos continuaram escondidos a lutar contra os alemães por quase um mês mais.

Para simbolizar a vitória alemã, Stroop ordenou a destruição da Grande Sinagoga da rua Tlomacki no dia 16 de maio de 1943. O gueto então já estava em ruínas. Stroop reportou que havia capturado 56.065 judeus e destruído 631 casamatas. Ele estimou que suas unidades haviam assassinado cerca de 7.000 judeus durante a revolta. As autoridades alemãs deportaram aproximadamente outros 7.000 israelitas de Varsóvia para o centro de extermínio de Treblinka, onde quase todos foram mortos em câmaras de gás logo após sua chegada ao local.

Os alemães deportaram quase todos os judeus restantes, aproximadamente 42.000 pessoas, para o campo de concentração de Lublin/Majdanek e para os campos de trabalho escravo de Poniatowa, Trawniki, Budzyn e Krasnik. Com exceção de alguns poucos milhares de trabalhadores que foram colocados para trabalhar como escravos em Budzyn e Krasnik, posteriormente as unidades das SS e da polícia alemã assassinaram quase todos os judeus de Varsóvia deportados para Lublin/Majdanek, Poniatowa e Trawniki, na assim chamada “Operação Festival da Colheita” (Unternehmen Erntefest), em novembro de 1943.

Os alemães haviam planejado destruir o gueto de Varsóvia em apenas três dias, mas os combatentes do gueto resistiram por mais de um mês. Mesmo após o fim da revolta no dia 16 de maio de 1943, judeus escondidos individualmente nas ruínas do gueto continuaram a atacar as patrulhas dos alemãs e de seus asseclas.

O Levante do Gueto de Varsóvia foi o maior e, simbolicamente, o mais importante levante judaico, e foi também a primeira revolta urbana na área da Europa ocupada pelos alemães. A resistência judaica em Varsóvia inspirou insurreições em outros guetos (como, por exemplo, em Bialystok e Minsk) e centros de extermínio (Treblinka e Sobibor).

Recordação

Na atualidade, as cerimônias do Dia de Recordação em Memória às Vítimas e aos Sobreviventes do Holocausto são conectadas às datas da Revolta do Gueto de Varsóvia

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