Os negros na Alemanha antes de 1933

Após a Primeira Guerra Mundial, os Aliados [Obs: os Aliados incluiam a Grã-Bretanha, França, Rússia, Itália e os Estados Unidos; estes países lutaram contra os Poderes Centrais, os quais incluiam a Alemanha, a Áustria-Hungria, o Império Turco Otomano e a Hungria] tomaram as colônias alemãs na África.  O contingente militar alemão estacionado na África, conhecido como Schutztruppen [i.e. Tropas de Proteção], assim como os missionários, funcionários coloniais e colonos de origem alemã retornaram à Alemanha com atitudes racistas.  A separação entre brancos e negros passou a ser mandatória pelo Reichstag, i.e. o parlamento alemão, o qual criou uma lei proibindo os  casamentos mistos nas colônias.

Após a Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado de Versalhes (1919), as forças Aliadas vitoriosas ocuparam a Renânia [Obs: Renânia é o nome genérico de uma região no oeste da Alemanha].  O uso das tropas coloniais nas áreas de ocupação com contingentes de soldados de origem africana aumentou o racismo contra os negros na Alemanha.  A propaganda racista contra os soldados negros os mostrava como estupradores de mulheres alemãs e portadores de doenças venéreas, além de outras de vários outros tipos de enfermidades contagiosas.  Os filhos de soldados negros e de mulheres alemãs eram conhecidos como os “Bastardos da Renânia”

Percepção Nazista sobre os Negros

Os nazistas, mesmo quando ainda eram parte de um movimento de pequeno porte, já viam os “Bastardos da Renânia” como uma ameça à pureza da raça germânica.  Na sua autobiografia, “Mein Kampf”(Minha Luta), Hitler escreveu que “os judeus trouxeram  os negros para a Renânia com o claro objetivo de arruinar a raça branca, a qual odeiam, através do resultado obrigatório da bastardização”. 

As crianças afro-alemãs (ou seja, uma pessoa com ancestrais brancos e negros) eram marginalizadas na sociedade alemã, isoladas social e econômicamente, além de não terem permissão para frequentar as universidades.  A discriminação racial tambem os proibia de buscar muitos tipos de trabalho, ai incluído o serviço militar.  Com a ascenção dos nazistas ao poder, os negros se tornaram objeto de políticas raciais e populacionais discriminatórias. Por volta de 1937, a Gestapo já havia secretamente preso e esterilizado vários deles. Muitos outros foram objeto de “experências médicas” e outros “desapareceram” misteriosamente.

A Influência de Artistas Negros na Cultura

A Cantora e Instrumentista Negra Valaida Snow

Tanto antes quanto após a Primeira Guerra Mundial, muitos negros das Américas e da África haviam ido para a Alemanha como estudantes, artesãos, artistas, antigos soldados ou funcionários coloniais de nível baixo, tais como coletores de impostos, que haviam trabalhado para o governo colonial alemão.  O dançarino professional Hilarius (Lari) Gilges foi morto pelas SS em 1933, provavelmente por ser negro.  Posteriormente, após o fim da Guerra, sua esposa, que era alemã, recebeu uma indenização do governo alemão pós-guerra.

Alguns afro-americanos, presos nas áreas europeías controladas pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, também foram vítimas do regime nazista.  Vários, como a cantora e instrumentista de jazz Valaida Snow, foram aprisionados em campos-de-internamento para estrangeiros.

No início da década de 1920, devido às divisões raciais no país, músicos de jazz afro-americanos não conseguiam espaço para sua atuação artística nos Estados Unidos, e muitos então foram para a Europa onde podiam crescer profissionalmente e alcancár grande popularidade.  O movimento cultural deste tipo de música ameaçava a expansão da ideologia nazista, que o considerava imoral.  Em meados da década de 1930, as autoridades nazistas baniram da Alemanha todos os músicos estrangeiros e as músicas por elas consideradas como não-arianas.  No entanto, a campanha para se livrarem do jazz não impediu que vários artistas americanos continuassem a sair das Américas para o exterior e assim difundir sua arte.  O desenhista de retratos Josef Nassy, que vivia na Bélgica, foi preso como “inimigo estrangeiro” por sete meses no campo de trânsito de Berverloo, em uma área da Bélgica ocupada pela Alemanha. Posteriormente, ele foi levado para a Alemanha, onde ficou preso até o final da Guerra no campo de Laufen, em seu sub-campo Tittmoning, ambos localizados na Alta Bavária.

Prisioneiros-de-Guerra Negros

Os negros americanos e europeus também eram internados no sistema dos campos-de-concentração nazistas.  Os prisioneiros-de-guerra negros enfrentavam o aprisionamento ilegal e muitos maus tratos nas mãos dos alemães e seus asseclas, os quais não respeitavam as regulamentações impostas pela Convenção de Genebra (um acordo internacional que lida com o tratamento a ser dado a soldados feridos e incarcerados).  O Sargento Darwin Nichols, um piloto afro-americano, foi enviado para  uma prisão da Gestapo em Butzbach.  Os soldados negros dos exércitos americano, inglês e francês eram colocados para trabalhar até morrer de exaustão na construção dos projetos nazistas ou como resultado dos maus tratos nos campo-de-prisioneiros.  Muitos sequer chegavam a ser presos, sendo imediatamente executados pelos membros das SS ou da Gestapo.

Soldados Afro-Americanos Durante a Segunda Guerra Mundial

Após lutarem pela Liberdade e defender democracias em todo o mundo, os soldados afro-americanos retornaram aos EUA em 1945 e se depararam com as leis denominadas  “Jim Crow” [Obs: leis estaduais e municipais que impunham a segregação racial no sul dos EUA]. A despeito da segregação no ambiente militar, mais de um milhão de afro-americanos lutaram nas forças armadas dos EUA, tanto no fronte interno quanto na Europa e no Pacífico, até 1945.  Vários afro-americanos das forças armadas dos Estados Unidos fizeram parte das forças de libertação e foram testemunhas das atrocidades nazistas.  O Batalhão de Tanques 761 (uma unidade de tanques composta por afro-americanos), sob o commando do General George Patton, participou da libertação de Gunskirchen, um sub-campo do grande campo-de-concentração de Mauthausen, em maio de 1945.