
Cronologia da Relação do Regime Nazista com os Militares Alemães
Esta cronologia mostra a relação entre a elite militar profissional alemã e o Estado nazista. Ela foca principalmente na aceitação da ideologia nazista pelos líderes militares e seu papel na perpetração de crimes militares contra judeus, prisioneiros-de-guerra e civis desarmados em nome daqueles ideais nefastos.
Após o Holocausto, os generais alemães alegaram ter lutado honrosamente na Segunda Guerra Mundial. Eles insistiam que eram as SS, a guarda de elite nazista, e o líder das SS, Heinrich Himmler, os responsáveis por todos os crimes.
Este mito sobre as "mãos limpas" dos militares alemães foi amplamente aceito pelos Estados Unidos da América, onde os líderes militares americanos, envolvidos na Guerra Fria, procuravam ajuda de seus colegas alemães em busca de informações que os ajudassem na sua disputa contra a União Soviética; e como os poucos relatos soviéticos disponíveis sobre a Guerra eram considerados indignos de confiança--mesmo que a maioria dos crimes cometidos pelos militares alemães tenha ocorrido em território soviético--o mito permaneceu incontestado por décadas.
Isto levou a duas distorções duradouras no registro histórico da Segunda Guerra Mundial. A primeira delas foi a de que os generais alemães passaram a ser vistos como modelos de habilidade militar, e não como criminosos-de-guerra cúmplices dos crimes do regime nazista; e, a segunda foi que o papel exercido pelos militares alemães durante o Holocausto foi convenientemente esquecido.
A cronologia que se segue aborda estas distorções ao narrar a relação entre a elite militar profissional e o Estado nazista. Ela foca principalmente na aceitação da ideologia nazista pelos líderes militares e seu papel na perpetração de crimes contra judeus, prisioneiros-de-guerra e civis desarmados em nome daquela ideologia.
Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

A Primeira Guerra Mundial foi uma das guerras mais destrutivas da história moderna. O entusiasmo inicial dos contendores por uma vitória rápida e decisiva desapareceu quando a Guerra começou a se arrastar, marcada por batalhas sem fim, com grandes perdas e combates nas trincheiras, particularmente na Frente Ocidental da Europa. Mais de 9 milhões de soldados morreram, um número que excedeu, em muito, o número acumulado de perdas militares de todas as guerras dos 100 anos anteriores. O grande número de perdas em todos os lados deveu-se, em parte, à introdução de novas armas tais como a metralhadora e os combates com uso de gases tóxicos, assim como à incapacidade dos líderes militares da época em ajustarem suas táticas à natureza cada vez mais mecanizada da guerra.
A Grane Guerra foi uma experiência marcante para os militares alemães. As falhas percebidas no campo-de-batalha e na frente-interna moldaram suas crenças sobre a guerra e influenciaram sua interpretação da relação entre civis e soldados.
Outubro de 1916: O Censo Judaico dos Militares Alemães
Durante a Primeira Guerra Mundial, aproximadamente 100.000 dos cerca de 600.000 soldados que serviam nas forças armadas alemãs eram judeus. Muitos deles eram profundos patriotas alemães que viam a Guerra como uma oportunidade de provar lealdade a seu país. No entanto, jornais e políticos antissemitas alegavam que os judeus eram covardes que se esquivavam de seu dever para ficar longe das áreas de combate. Para provar tal falsa afirmação, o Ministro da Guerra iniciou uma investigação sobre o número de judeus servindo nas linhas de frente. Por razões que não são claras, os resultados nunca foram publicados, o que permitiu que os antissemitas continuassem a questionar o patriotismo judaico mesmo após o final da Guerra.
11 de Novembro de 1918: O Armistício e o Mito da Punhalada pelas Costas
Após mais de quatro anos de combates, um armistício, ou cessar-fogo, entre a Alemanha derrotada e as potências da Entente entrou em vigor no dia 11 de novembro de 1918. Para o povo alemão, a derrota foi um enorme choque, a eles havia sido dito que a vitória alemã seria certa.
Uma maneira pela qual alguns alemães lidaram com sua derrota repentina foi o mito da "punhalada pelas costas". A lenda afirmava que "inimigos" internos, principalmente os judeus e os comunistas, haviam sabotado o esforço de guerra alemão. Na verdade, os líderes militares alemães convenceram seu imperador [Kaiser] a buscar a paz porque sabiam que a Alemanha não poderia vencer a Guerra e temiam o colapso iminente do país. Muitos destes mesmos líderes militares então espalharam a lenda da punhalada-pelas-costas para desviar sua culpa pela derrota.
28 de Junho de 1919: O Tratado de Versalhes
O Tratado de Versalhes, que encerrou a Primeira Guerra Mundial, foi assinado em 28 de junho de 1919. O recém-formado governo democrático da Alemanha viu o tratado como uma "paz forçada" com termos muito rigorosos contra aquele país.
Dentre outras disposições, o Tratado limitou artificialmente o poder militar alemão, restringindo o exército a uma força voluntária de 100.000 homens, com um máximo de 4.000 oficiais, que eram obrigados a servir por 25 anos. A intenção era impedir que o exército alemão usasse uma rotatividade rápida para treinar mais oficiais. O Tratado proibia a produção de tanques, gases venenosos, carros blindados, aviões, submarinos e a importação de armas na Alemanha. Ele dissolveu a seção de planejamento da elite do exército alemão, conhecida como Estado-Maior, e fechou as academias militares e outras instituições de treinamento. O Tratado exigia a desmilitarização da Renânia, proibindo as forças militares alemãs de permanecerem estacionadas ao longo da fronteira com a França. Estas mudanças limitaram em muito as perspectivas de carreira dos oficiais militares alemães.
1º de Janeiro de 1921: Restabelecimento das Forças Armadas Alemãs
A nova república alemã pós-Guerra, conhecida como República de Weimar, enfrentou muitas tarefas difíceis. Uma das mais desafiadoras foi a reorganização das forças armadas, chamada Reichswehr. O governo instituiu a Reichswehr em 1º de janeiro de 1921 sob a liderança do general Hans von Seeckt. O pequeno e homogêneo corpo de oficiais do Reichswehr era caracterizado por atitudes antidemocráticas, oposição à República de Weimar e tentativas de minar e contornar os termos do Tratado de Versalhes.
Ao longo da década de 1920, os militares violaram repetidamente o Tratado. Por exemplo, o Estado-Maior, que havia sido dissolvido, simplesmente transferiu seu planejamento para um recém-criado "Escritório de Tropas". Os militares também importaram secretamente armas que haviam sido proibidas pelo Tratado de Versalhes. Eles chegaram a assinar um acordo com a União Soviética, o qual permitia que realizassem exercícios proibidos com tanques em território soviético. Os oficiais de nível médio do Reichswehr vieram a ser posteriormente os líderes das forças armadas sob o comando de Hitler.
27 de Julho de 1929: A Convenção de Genebra
Em 27 de julho de 1929, a Alemanha e outros países líderes importantes assinaram em Genebra, Suíça, a Convenção Relativa ao Tratamento de Prisioneiros-de-Guerra. Este acordo internacional era baseado nas Convenções de Haia de 1899 e 1907 para aumentar a proteção para os prisioneiros-de-guerra. A Convenção foi um dos vários acordos internacionais importantes que regulavam a Guerra na década de 1920. O Protocolo de Genebra (1925) atualizou as restrições relativas ao uso de gases venenosos. Em 1928, o Pacto Kellogg-Briand renunciou à guerra como política nacional.
Esses acordos do pós-guerra foram uma tentativa de atualizar o direito internacional de forma a evitar outro conflito tão destrutivo quanto a Primeira Guerra Mundial. No entanto, a atitude dominante dentro do exército alemão era a de que a necessidade militar sempre deveria prevalecer sobre o direito internacional. Como muitas outras nações, a Alemanha deturpou ou violou as regras quando considerou vantajoso fazê-lo.
3 de Fevereiro de 1933: Hitler se Reúne com os Principais Líderes Militares

Adolf Hitler foi nomeado Chanceler [Primeiro-Ministro] da Alemanha em 30 de janeiro de 1933. Apenas quatro dias depois, ele teve uma reunião privada com os principais líderes militares na tentativa de obter seu apoio. Isso era especialmente importante porque os militares historicamente desempenharam um papel muito importante na sociedade alemã e, portanto, tinham a capacidade de derrubar o novo regime.
A liderança militar não confiava e nem apoiava totalmente Hitler devido a seu populismo e radicalismo. No entanto, o Partido Nazista e os militares alemães tinham objetivos de política externa semelhantes. Ambos queriam renunciar ao Tratado de Versalhes, expandir as forças armadas alemãs e destruir a ameaça comunista. Nesta primeira reunião, Hitler tentou tranquilizar o corpo de oficiais alemães, mas falou abertamente sobre seus planos de estabelecer uma ditadura, recuperar terras alemãs perdidas no Tratado e sobre travar uma guerra. Quase dois meses depois, Hitler mostrou seu respeito pela tradição militar alemã, curvando-se publicamente frente ao presidente Hindenburg, um célebre general da Primeira Guerra Mundial.
28 de Fevereiro de 1934: O "Parágrafo Ariano"
Aprovada em 7 de abril de 1933, a Lei para a Restauração do Serviço Público Profissional inclui o Parágrafo Ariano. O Parágrafo ordenava que todos os alemães de ascendência não-ariana (ou seja, judeus) fossem demitidos do serviço público.
O Parágrafo Ariano não se aplicava inicialmente às forças armadas. Em 28 de fevereiro de 1934, no entanto, o ministro da Defesa Werner von Blomberg voluntariamente colocou a lei em vigor também para as tropas militares. Como o Reichswehr já havia discriminado os judeus e impedido sua promoção, a política afetou menos de 100 soldados israelitas.2 Em um memorando para líderes militares do alto escalão, o coronel Erich von Manstein condenou as demissões com base nos valores tradicionais dos militares alemães e de seu código profissional, mas suas palavras não surtiram grande efeito. A decisão de Blomberg de aplicar o Parágrafo Ariano foi uma das muitas maneiras pelas quais altos oficiais militares uniram-se ao regime nazista. Eles também adicionaram símbolos nazistas aos uniformes e insígnias militares e introduziram educação política baseada nos ideais nazistas no treinamento militar.
30 de Junho a 2 de Julho de 1934: A "Noite das Facas Longas"
Em 1933-1934, Hitler pôs fim aos esforços do líder da SA, Ernst Röhm, para substituir o exército profissional por uma milícia popular centrada na SA. Os líderes militares exigiram que Röhm fosse detido. Hitler decidiu que um exército profissionalmente treinado e organizado se adequaria melhor a seus objetivos expansionistas e interveio em nome dos militares contando com seu apoio no futuro.
Entre 30 de junho e 2 de julho de 1934, a liderança do Partido Nazista assassinou os chefes da SA, incluindo Röhm e outros oponentes. Os assassinatos confirmaram a existência de um acordo entre o regime nazista e os militares, o qual permaneceria intacto, com raras exceções, até o fim da Segunda Guerra Mundial. Como parte dos termos deste acordo, os líderes militares apoiaram Hitler quando ele se auto proclamou Führer (líder) do Reich alemão, em agosto de 1934. Os líderes militares imediatamente redigiram um novo juramento que incluía sua lealdade a Hitler pessoalmente, como se ele fosse a personificação da nação alemã.
Março de 1935 a Março de 1936: A Criação da Wehrmacht
No início de 1935, em violação ao Tratado de Versalhes, a Alemanha deu seus primeiros passos abertos para se rearmar. Em 16 de março de 1935, uma nova lei reintroduziu o recrutamento militar e expandiu oficialmente o contingente do exército alemão para 550.000 homens.
Em maio, uma Lei secreta de Defesa do Reich transformou a Reichswehr na Wehrmacht, tornando Hitler seu Comandante-Chefe, com um "Ministro da Guerra e Comandante da Wehrmacht" sob seu controle. A mudança do nome foi em grande parte cosmética; a intenção real era a de criar uma força capaz de levar adiante uma guerra de agressão, em vez da força defensiva criada através dos termos do Tratado. Além disto, a lei de recrutamento excluiu os judeus para a grande decepção daqueles homens israelitas que queriam provar sua lealdade contínua à Alemanha. Os líderes militares trabalharam em conjunto com o regime nazista para expandir a produção de armamentos. Em março de 1936, a nova Wehrmacht militarizou a área da Renânia.
5 de Novembro de 1937: Hitler Torna a se Reunir com os Principais Líderes Militares
Em 5 de novembro de 1937, Hitler realizou uma breve reunião com o ministro das Relações Exteriores, o ministro da Guerra e os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. Hitler apresentou sua visão sobre uma nova política externa da Alemanha, incluindo seus planos para absorver a Áustria e a Tchecoslováquia em breve, à força caso necessário, com mais expansões territoriais a seguir. O Comandante-Chefe do Exército, Werner Freiherr von Fritsch, o Ministro da Guerra, von Blomberg, e o Ministro das Relações Exteriores, Konstantin von Neurath, se opuseram, não por motivos morais, mas porque acreditavam que a Alemanha não estava pronta militarmente, especialmente se a Grã-Bretanha e a França resolvessem entrar na Guerra. Nos dias e semanas seguintes, vários outros líderes militares que tomaram conhecimento da reunião também expressaram sua desaprovação.
Janeiro a Fevereiro de 1938: O Caso Blomberg-Fritsch
No início de 1938, dois escândalos envolvendo os principais líderes da Wehrmacht permitiram que os nazistas removessem comandantes que não apoiavam totalmente os planos de Hitler (conforme apresentados na reunião de novembro). Primeiro, o de que Blomberg, o Ministro da Guerra, havia se casado recentemente, e que haviam surgido informações de que sua esposa tinha "um passado", envolvendo, pelo menos, fotos pornográficas, sendo isto totalmente inaceitável para qualquer oficial do exército. Hitler (com o total apoio dos outros generais sêniores) exigiu a renúncia de Blomberg. Na mesma época, o Comandante-Chefe do Exército, von Fritsch, renunciou depois que Himmler e o Reichsmarshal. Hermann Göring inventaram falsas acusações de homossexualidade contra ele.
As duas renúncias ficaram conhecidas como o Caso Blomberg-Fritsch, e deram a Hitler a oportunidade de reestruturar a Wehrmacht como desejava. O cargo de Ministro da Guerra foi assumido pelo próprio Hitler e o general Wilhelm Keitel foi nomeado chefe militar das forças armadas. Fritsch foi substituído pelo muito mais flexível Coronel-General Walther von Brauchitsch. Estas mudanças foram as mais públicas, mas Hitler também anunciou uma série de renúncias e transferências forçadas em uma reunião de gabinete no início de fevereiro.
Março de 1938 a Março de 1939: Política Externa e Expansão

De março de 1938 a março de 1939, a Alemanha fez uma série de movimentos territoriais que criaram o risco de eclosão de uma guerra na Europa. Primeiramente, em março de 1938, a Alemanha anexou a Áustria; em seguida, Hitler ameaçou iniciar uma guerra a menos que a região dos Sudetos (Sudetenland), uma área fronteiriça no território da Tchecoslováquia onde vivia uma maioria étnica alemã, fosse entregue à Alemanha. Os líderes da Grã-Bretanha, França, Itália e Alemanha realizaram uma conferência em Munique, na Alemanha, entre 29 e 30 de setembro de 1938. Eles concordaram com a anexação alemã dos Sudetos em troca de uma promessa de paz da parte de Hitler. Em 15 de março de 1939, Hitler violou o Acordo de Munique e avançou contra o território restante do Estado da Tchecoslováquia. Tais eventos provocaram tensão dentro do Alto Comando militar. O general Ludwig Beck, chefe do Estado-Maior, há muito protestava contra a perspectiva de outra guerra invencível, mas seus colegas se recusaram a apoiá-lo; eles estavam dispostos a entregar as rédeas da estratégia ao Führer. Beck renunciou, e não conseguiu mudar as idéias expansionistas de Hitler.

1º de Setembro de 1939: A Alemanha Invade a Polônia
Em 1º de setembro de 1939, a Alemanha invadiu e rapidamente derrotou a Polônia, deflagrando assim a Segunda Guerra Mundial. A brutalidade da ocupação alemã da Polônia foi excepcional. Em uma campanha de terror, a polícia alemã e as unidades das SS atiraram em milhares de civis poloneses e exigiram que todos os homens poloneses realizassem trabalhos forçados. Os nazistas procuraram destruir a cultura polonesa eliminando sua liderança política, religiosa e intelectual. Estes crimes foram perpetrados principalmente pelas SS, embora os líderes da Wehrmacht apoiassem totalmente tais políticas. Muitos soldados alemães também participaram da violência e dos saques subsequentes. Alguns membros da Wehrmacht ficaram descontentes com o envolvimento dos seus soldados, chocados com a violência e preocupados com a falta de ordem entre os combatentes alemães. Os generais Blaskowitz e Ulex chegaram mesmo a reclamar com seus superiores sobre a violência mas foram rapidamente silenciados.
7 de Abril a 22 de Junho de 1940: A Invasão do Oeste da Europa
Na primavera europeia de 1940, a Alemanha invadiu, derrotou e ocupou a Dinamarca, a Noruega, a Bélgica, a Holanda, Luxemburgo e a França. Essa série de vitórias–em especial a derrota surpreendentemente rápida da França--aumentou enormemente a popularidade de Hitler em seu país e entre os militares. Os poucos oficiais militares que se opuseram a seus planos tiveram sua credibilidade destruída e, consequentemente, a capacidade de organizar uma oposição ao regime também foi reduzida. Após a vitória no oeste da Europa, Hitler e a Wehrmacht voltaram sua atenção para o planejamento de uma invasão da União Soviética.
30 de Março de 1941: Planejamento da Invasão da Alemanha à União Soviética

Em 30 de março de 1941, Hitler encontrou-se secretamente com 250 dos seus principais comandantes e oficiais de Estado-Maior e falou sobre a natureza da próxima guerra contra a União Soviética. Seu discurso enfatizou que a guerra no oriente europeu seria conduzida com extrema brutalidade, com o objetivo de destruir a ameaça comunista. Os ouvintes sabiam que ele estava tentando cometer claras violações das leis-de-guerra, mas não apresentaram objeções sérias. Ao contrário, seguindo a posição ideológica de Hitler, os militares emitiram uma série de ordens que deixaram claro que pretendiam travar uma guerra de aniquilação contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. As mais notórias destas ordens incluíam a Ordem dos Comissários e o Decreto de Jurisdição Barbarossa. Em conjunto, estas e outras ordens estabeleceram uma relação de trabalho clara entre a Wehrmacht e as SS. Além disto, as ordens esclareceram que os soldados não seriam punidos caso cometessem atos contrários às regras de guerra internacionalmente acordadas.
6 de Abril de 1941: A Invasão da Iugoslávia e da Grécia
As potências do Eixo invadiram a Iugoslávia em 6 de abril de 1941, desmembrando o país e explorando suas tensões étnicas. Em uma das regiões---a Sérvia--a Alemanha estabeleceu uma administração de ocupação militar que agiu com extrema brutalidade contra a população local. Durante o verão europeu daquele ano, as autoridades militares e policiais alemãs internaram a maioria dos judeus e de ciganos Roma locais em campos de concentração. No outono europeu, um levante sérvio causou sérias baixas entre os militares e policiais alemães. Em resposta, Hitler ordenou que as autoridades alemãs executassem 100 prisioneiros para a morte de cada alemão. As unidades militares e policiais alemãs usaram esta ordem como pretexto para atirar em praticamente todos os judeus sérvios do sexo masculino (aproximadamente 8.000 homens), aproximadamente 2.000 comunistas, reais e imaginários, nacionalistas sérvios e políticos democratas do período entre-guerras, e aproximadamente 1.000 homens ciganos do subgrupo Roma.
22 de Junho de 1941: A Invasão da Alemanha na União Soviética

As forças alemãs invadiram a União Soviética em 22 de junho de 1941. Três grupos do exército, compostos por mais de três milhões de soldados alemães, atacaram a União Soviética em uma ampla frente, desde o Mar Báltico ao norte, até o Mar Negro ao sul.
Seguindo ordens, as forças alemãs trataram a população da União Soviética com extrema brutalidade. Elas queimaram aldeias inteiras e atiraram nas populações rurais de distritos inteiros em retaliação a ataques de grupos de partisans contra os nazistas. Elas enviaram milhões de civis soviéticos para realizar trabalhos escravos na Alemanha e nos territórios ocupados. Os planejadores alemães pediam a exploração implacável dos recursos soviéticos, especialmente dos produtos agrícolas, pois este era um dos principais objetivos de guerra da Alemanha no leste europeu.
Junho de 1941 a Janeiro de 1942: O Assassinato Sistemático dos Prisioneiros-de-Guerra (POWs) Soviéticos
Desde o início da campanha no leste da Europa, a ideologia nazista orientou a política alemã em relação aos prisioneiros-de-guerra soviéticos, pois as autoridades alemãs os viam como seres inferiores e como parte da "ameaça bolchevique". Eles argumentavam que, como a União Soviética não era signatária da Convenção de Genebra de 1929, os regulamentos que exigiam que prisioneiros-de-guerra recebessem comida, abrigo e cuidados médicos, além de proibir trabalho de guerra forçado ou punição corporal, não se aplicavam aos soviéticos. Esta política se mostrou catastrófica para os milhões de soldados soviéticos presos durante a Guerra.
No final da Guerra, mais de 3 milhões de prisioneiros soviéticos (cerca de 58% do total) morreram em cativeiro alemão (contra cerca de 3% dos prisioneiros britânicos ou norte-americanos). Este número de mortos não foi um acidente nem um resultado automático da guerra, mas sim uma política deliberada de extermínio. O exército e as SS cooperaram no fuzilamento de centenas de milhares de prisioneiros-de-guerra soviéticos, seja porque fossem judeus, comunistas ou por parecerem "asiáticos". Outros prisioneiros-de-guerra soviéticos foram submetidos a longas marchas forçadas, fome sistemática, nenhum atendimento médico, pouco ou nenhum abrigo e trabalho forçado. Repetidamente, as forças alemãs eram convocadas a tomar "ações enérgicas e implacáveis" e a "usar suas armas" sem hesitar "para eliminar qualquer traço de resistência" dos prisioneiros-de-guerra soviéticos.
Verão ao Outono Europeu de 1941: Participação da Wehrmacht no Holocausto
A maioria dos generais alemães não se considerava nazista. No entanto, eles compartilhavam muitos dos objetivos dos nazistas. Em sua opinião, havia boas razões militares para apoiar aquelas políticas. Aos olhos dos generais, o comunismo alimentava a resistência. Eles também acreditavam que os judeus eram a força motriz por trás do comunismo.
Quando as SS se ofereceram para garantir as áreas de retaguarda e eliminar a ameaça judaica, o exército cooperou fornecendo apoio logístico às unidades e coordenando seus movimentos. Unidades do exército ajudaram a capturar judeus para levá-los até os esquadrões de fuzilamento, isolaram as áreas de execução e, às vezes, também participavam da carnificina. Foram estabelecidos guetos para aqueles judeus que os atiradores haviam deixado para trás e os utilizaram para realizar trabalho escravo. Quando algumas tropas mostravam sinais de desconforto com aquelas atitudes, os generais emitiam ordens, justificando as execuções, e outras medidas duras.
2 de Fevereiro de 1943: Rendição do 6º Exército Alemão em Stalingrado
A Batalha de Stalingrado, que durou de outubro de 1942 a fevereiro de 1943, foi um grande ponto de virada na Guerra. Depois de meses de fortes combates e muitas baixas, e contrariando a ordem direta de Hitler, as forças alemãs sobreviventes (cerca de 91.000 homens) se renderam em 2 de fevereiro de 1943. Duas semanas depois, o ministro da Propaganda, Joseph Goebbels, fez um discurso em Berlim pedindo a radicalização das medidas de mobilização e a extensão para uma guerra total. O discurso reconheceu as dificuldades que o país enfrentava e marcou o início de um crescente desespero por parte da liderança nazista.
A derrota em Stalingrado forçou as tropas alemãs a ficarem na defensiva, e foi o início da sua longa retirada de volta à Alemanha. Este recuo foi marcado por uma destruição generalizada das áreas por onde passavam os militares que, sob ordens de Hitler, implementaram a política de “terra arrasada”. Houve também uma maior ênfase na manutenção da disciplina militar, incluindo prisões implacáveis de soldados que haviam expressado quaisquer dúvidas sobre a vitória final da Alemanha.
20 de Julho de 1944: A Operação Valquíria
Embora geralmente despreocupado com os crimes nazistas--vários dos conspiradores haviam participado diretamente da execução de judeus--um pequeno grupo de oficiais militares seniores decidiu que Hitler tinha que morrer. Eles culpavam Hitler pela derrota na Guerra e sentiram que sua liderança contínua representava uma séria ameaça ao futuro da Alemanha. Em 20 de julho de 1944, eles tentaram assassinar Hitler, explodindo uma pequena mas poderosa bomba durante uma reunião militar no quartel-general da Prússia Oriental, em Rastenburg.
Hitler sobreviveu e o plano desmoronou. Ele rapidamente se vingou deste atentado contra sua vida. Vários generais foram forçados a cometer suicídio ou a enfrentarem processos humilhantes; outros foram julgados perante o infame Tribunal Popular de Berlim e executados. Enquanto Hitler continuava desconfiado dos membros restantes do corpo de oficiais alemães, a maioria continuou a lutar por ele e pela Alemanha até a rendição final do país, em 1945.
1945-1948: Julgamentos dos Grandes Crimes de Guerra
Após a rendição alemã, em maio de 1945, alguns líderes militares foram julgados por crimes-de-guerra e crimes contra a humanidade. Os generais das patentes mais altas foram incluídos como réus no julgamento de 22 grandes criminosos-de-guerra perante o Tribunal Militar Internacional (TMI) em Nuremberg, na Alemanha, a partir de outubro de 1945. Wilhelm Keitel e Alfred Jodl, ambos do alto comando das forças armadas alemãs, foram considerados culpados e executados. Ambos procuraram culpar Hitler; no entanto, o TMI rejeitou explicitamente o uso da desculpa de obedecimento a "ordens superiores" como atenuante para a defesa dos acusados.
Três julgamentos subsequentes do TMI perante um tribunal militar norte-americano em Nuremberg também se concentraram nos crimes dos militares alemães. Muitos dos condenados foram libertados rapidamente sob a pressão da Guerra Fria e do estabelecimento da Bundeswehr [Forças Armadas da Alemanha]. Infelizmente, muitos perpetradores dos terríveis crimes nazistas nunca foram julgados e punidos.

Pés-de-página
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Footnote reference1.
FL Carsten, Reichswehr Politics (Berkeley: University of California Press, 1973), 50.
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Footnote reference2.
Robert B. Kane, Disobedience and Conspiracy in the German Army, 1918-1945 (Jefferson, Carolina do Norte: McFarland & Company, 2002), 82-83.
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Footnote reference3.
Grundzüge deutscher Militärgeschichte, (Freiburg i.B.: Militärgeschichtliches Forschungsamt, 1993), 329.
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Footnote reference4.
Instituto de História Alemã, "Summary of Hitler's Meeting with the Heads of the Armed Services on November 5, 1937", acessado em 25 de novembro de 2019, http://germanhistorydocs.ghi-dc.org/sub_document.cfm?document_id=1540. Uma tradução eletrônica da ata original da reunião alemã, "Minutas da Conferência na Chancelaria do Reich, Berlim, 5 de novembro de 1937, das 16h15 às 20h30", está disponível na página, conforme traduzida originalmente do alemão e publicada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (em inglês e alemão).
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Footnote reference5.
A Conferência de Wannsee e o genocídio dos judeus europeus: catálogo com documentos selecionados e fotos da exposição permanente. (Berlim: House of the Wannsee Conference, Memorial and Education Site, 2007), 39-40.